domingo, 31 de março de 2019

Morrer por ser gay: o mapa-múndi da homofobia


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Morrer por ser gay: o mapa-múndi da homofobia

Onze países ainda punem com a morte as relações homossexuais. Um em cada três países condena a homossexualidade. Mais de 50% dos LGBT dizem ter sofrido alguma violência desde as eleições no Brasil



Existe um mapa-múndi que se divide basicamente em duas cores. Um engloba 70 países, onde ser gay ou lésbica é ilegal, e que pode ser punido com a morte. Outro inclui as 123 nações onde ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo não sofre punição. A maior associação mundial de defesa do coletivo LGTBI expõe regularmente este quadro mostrando que, ao mesmo tempo em que diminuem os lugares onde pessoas são perseguidas por sua orientação sexual, surgem novas ameaças como a chegada ao poder de líderes homofóbicos.
No relatório Homofobia Patrocinada pelo Estado 2019, elaborado pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA) e divulgado nesta semana, foram excluídos do atlas da infâmia a Índia, Trinidad e Tobago e Angola desde a última revisão, em 2017. Austrália, Malta, Alemanha e Áustria aderiram ao casamento igualitário, totalizando agora 26 países no pódio da igualdade de direitos. A organização também destaca, como símbolo de maior proteção, que nove países incluíram em sua constituição a menção explícita de que a orientação sexual não deve ser motivo de discriminação. Entre eles estão Portugal, Equador, Bolívia e África do Sul, uma ilha de igualdade no panorama africano.
O extenso estudo da ILGA, de mais de 500 páginas, revisa a legislação em todos os países membros da ONU. A 17ª edição foi apresentada durante a reunião anual da federação, na Nova Zelândia. O levantamento foi coordenado pelo advogado argentino Lucas Ramón Mendos.
O perigo de morrer por manter relações homossexuais não diminuiu em relação ao relatório mais recente. Seis países punem a homossexualidade com a pena de morte: Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Nigéria e Somália. Além disso, um homossexual pode ser condenado à morte na Mauritânia, nos Emirados Árabes Unidos, no Catar, no Paquistão e no Afeganistão. O relatório destaca que, embora o Iraque tenha desaparecido da lista devido à "eliminação do Estado Islâmico, continua a ser um país que criminaliza de facto, porque persegue os homossexuais utilizando leis de atentado ao pudor, prostituição e outras".
Em outros 26 países, a sentença máxima para esses atos varia entre 10 anos de prisão e prisão perpétua. Em 31 deles, a homossexualidade é punível com até oito anos de prisão. Em resumo, em um em cada três países (35%) é perigoso revelar ser membro da comunidade LGTBI. Em 68 países, observa o estudo, "há leis que proíbem explicitamente atos sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo, e outros dois os criminalizam de facto". Além disso, as jurisdições que não pertencem aos estados membros da ONU também punem as relações homossexuais, como Gaza, Ilhas Cook e certas províncias da Indonésia".
Morte e prisão são casos extremos de violência que, da cúpula do poder, são infligidos com leis. Pelo menos 32 países, enfatiza o relatório, promoveram medidas para limitar a liberdade de expressão (incluindo leis de propaganda que proíbem a promoção da homossexualidade ou relações sexuais "não tradicionais"). Em 41 países, as organizações LGTBI enfrentam obstáculos para serem legalizadas ou atuarem, "o que aumenta o perigo ao qual os ativistas estão expostos".
A situação da Chechênia é descrita como "crítica" e reflete as torturas e perseguições das autoridades contra gays e lésbicas. Em janeiro passado, ativistas relataram que duas pessoas haviam morrido e outras 40 estavam detidas. Retrocessos e ameaças também fazem parte do panorama traçado pelo relatório.
Embora mais lento do que o desejado, também há progresso, avalia a ILGA. Talvez o mais evidente, como destacado na edição deste ano, seja que a Índia, um país de grande importância e influência, tenha abolido uma lei vitoriana que proibia as relações homossexuais, puníveis com uma pena máxima de prisão perpétua. Essa medida reduziu drasticamente o número de pessoas submetidas às leis homofóbicas, o equivalente a 27% da população mundial. Desde setembro de 2018, 1,3 bilhão de cidadãos indianos já não fazem parte desse grupo.
Vinte e seis países reconhecem o casamento entre pessoas do mesmo sexo; 27 regulamentaram as uniões civis; e 72 nações têm leis que protegem gays e lésbicas contra a discriminação no trabalho. Trinta e nove países têm normas que punem o incitamento ao ódio, a discriminação e a violência contra uma pessoa por causa da orientação sexual, e 28 permitem que gays e lésbicas tenham acesso à adoção.

Mais de 50% dos LGBT dizem ter sofrido alguma violência desde as eleições no Brasil

Durante o período eleitoral no Brasil,  episódios de intimidação aumentaram a ansiedade entre grupos que já se sentiam vulneráveis por discursos feitos no passado, e hoje negados, pelo então candidato Jair Bolsonaro. Horas antes da apresentação do estudo da ILGA, Bolsonaro declarou em Washington, após uma reunião com Donald Trump: "Respeitamos a família tradicional, somos tementes a Deus, contra a ideologia de gênero, do politicamente correto e das fake news".
Este tipo de discurso vem deixando marcas na população LGBTI brasileira. A pesquisa “Violência contra LGBT+ no contexto eleitoral e pós-eleitoral”, produzida pela Gênero e Número e financiada pela Fundação Ford, mostra que 51% dos entrevistados sofreram pelo menos uma agressão desde as eleições de 2018. As mulheres lésbicas são as que mais declararam ter sofrido violência (57%), seguidas das pessoas trans e travestis (56%), gays (49%) e bissexuais (44,5%).
A violência verbal foi a mais prevalente, em 94% dos casos, seguida de tratamento discriminatório (56%), assédio moral (54%) e violência física (13%). O levantamento foi feito com 400 pessoas em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Por ter identificado tipos de violências que podem ocorrer simultaneamente, a somatória não é 100%.
As ruas ou espaços públicos são os locais onde os episódios de violência são mais comuns (83%). Também são comuns agressões em comércio ou serviço público (46%), ambientes familiares (38,5%), mercado de trabalho (23%), escola/universidade (19%) e espaços religiosos (12%).

quarta-feira, 20 de março de 2019

NOTA DE POSICIONAMENTO SOBRE A PROPOSTA DE REFORMA DA PREVIDÊNCIA DO GOVERO BOLSONARO











NOTA DE POSICIONAMENTO

SOBRE A PROPOSTA DE REFORMA DA PREVIDÊNCIA DO GOVERO BOLSONARO

O Governo Bolsonaro encaminhou proposta de reforma da previdência ao Congresso Nacional no segundo mês de seu governo, como prometeu. Muitas análises e uma disputa para legitimar a proposta estão em curso. Alguns dos argumentos centrais apontados pelo governo e pelos analistas e economistas aliados aos interesses do mercado são de que o Brasil precisa fazer a reforma da previdência para (1) contribuir no ajuste fiscal e controle das contas públicas, sem o qual não se retoma o crescimento da economia no país, (2) fazer justiça social, corrigindo as distorções existentes no sistema previdenciário e (3) garantir a seguridade da previdência para as gerações futuras. Apresentamos alguns comentários ainda iniciais de posicionamento.

(1) O argumento do ajuste fiscal e da retomada do crescimento da economia, entre outras questões, destaca o chamado déficit orçamentário da previdência ou “rombo da previdência”. Para os economistas comprometidos com os senhores do mercado este é o grande atravancador do avanço da economia no país. A economista e professora da UFRJ, Denise Lobato Gentil, defende que este argumento não se sustenta, quando confrontado à Constituição Federal de 1988. Para ela “o governo faz um cálculo sem considerar o que prevê a Constituição Federal nos artigos 194 e 195. Nesses dois artigos verifica-se que os recursos que pertencem à seguridade social, que financiarão os gastos com saúde, assistência social e previdência, são provenientes de vár ias fontes de receita”. Segundo ela, “quem defende a seguridade social, no entanto, sabe que toda essa retórica é forjada para privatizar a oferta de serviços públicos”. Com isto “empurra-se a população para fazer planos de previdência em fundos privados de capitalização e desloca essas pessoas de um serviço que deveria ser público para o sistema financeiro. Trata-se de um processo de financeirização do orçamento público. Reduzir benefícios significa empurrar as pessoas para os planos privados de previdência”.1 Para a economista, em acordo com o que aponta a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip), “baseado nos preceitos constitucionais, não há déficit da previdência”. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) realizada pelo Senado Federal e concluída no final de 2017, em seu relatório final,2 aprovado por unanimidade, observou que “falar simplesmente de déficit da Previdência, a partir do comportamento das receitas e despesas atuais da seguridade social como um todo, é mitigar a realidade” (2017, p. 34). Por outro lado, é importante frisar que o crescimento da economia é resultado de vários fatores e atrelar a crise econômica ao sistema previdenciário é jogar com o interesse dos mercados sobre os direitos dos/as trabalhadores/as.

(2) O argumento de que a proposta de reforma apresentada pelo governo vai definitivamente promover a justiça social não passa de armadilha retórica ou mera ficção. Isso porque, nivelar os já historicamente prejudicados e alijados dos direitos constitucionais, do acesso

2 Relatório completo em http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento/download/c20f0635-1112-4636-bc0c-49a2ca4b919a e principais pontos do relatório em www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/10/24/veja-os-principais-pontos-do-relatorio-da-cpi-da-previdencia


aos serviços públicos básicos com aqueles que sempre gozaram de benefícios ou privilégios no sistema previdenciário não tem o menor senso de justiça social. Isto é, na contramão deste discurso, num rápido olhar sobre a proposta apresentada pelo governo, é possível detectar que ela é muito dura e injusta com os mais pobres, sobretudo em razão da diminuição dos ganhos, do aumento da idade e do tempo de contribuição e as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo. A previsão de que a população que tem direito ao BPC somente passará a receber o salário mínimo integral a partir dos 70 anos significa, para o economista e professor da Unicamp, Eduardo Fagnani, que “esta população terá uma sobrevida muito curta, uma vez que é difícil que cheguem aos 70 anos de idade” 3. A proposta previdenciária também atinge de forma negativa as mulheres, elevando e equiparando a idade e o tempo de contribuição com os homens, num universo adverso do mundo do trabalho, onde as mulheres além de exercerem a maternidade, na sua grande maioria cumprem com carga horária de trabalho dobrada e com ganhos inferiores aos dos homens. A classe trabalhadora que, em média vive de salário mínimo ou pouco mais, e que, em geral, ocupa os trabalhos mais onerosos à saúde, terá a idade mínima para garantia de aposentadoria aos 65 anos de idade para os homens e 62 para as mulheres, além da exigência de 40 anos de contribuição para a recepção do valor integral, gerando potencial altíssimo de ganho menor do que o salário mínimo ao se aposentar. Na contramão destas injustiças e sacrifício dos mais pobres e frágeis no sistema, o governo continua fazendo a opção em não discutir o gasto público no que se refere aos custos com pagamento de juros da dívida pública e com renúncias tributárias e fiscais dos mais ricos, além da inadimplência e das dívidas não cobradas, que transferem polpudos valores ou então deixam de arrecadar sobre lucros e dividendos, sustentando assim o avanço da concentração de renda e da desigualdade social no país.

(3) No que se refere ao terceiro argumento, defender a previdência para as gerações futuras não significa penalizar quem entrou recentemente ou está entrando agora no mercado de trabalho. Há análises que dizem que a proposta de reforma da previdência apresentada pelo governo vai incentivar a contratação de aposentados, uma vez que propõe desoneração com relação ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e multa rescisória. Logo, além de promover a perda de direitos para os/as trabalhadores/as mais velhos e/ou aposentados, estimula o mercado a não contratação de trabalhadores e profissionais mais jovens. Isto é defender as gerações futuras? Ainda, ao manter na ativa por mais tempo profissionais mais velhos, promove incentivo para que os mais jovens, especialmente os menos qualificados, se disponham a trabalhar com menos direitos, aderindo a já anunciada “carteira de trabalho verde e amarela”, que flexibilizará ainda mais os direitos trabalhistas.4 Por outro lado, fazer a reforma de previdência de costas para a realidade do mundo do trabalho e do trabalhador no Brasil, é um erro. No Brasil, mais ou menos 50% do trabalho se dá na informalidade, sem contribuição à previdência. Nesta perspectiva, segundo Eduardo Fagnani, “com essas regras propostas, que são duríssimas, mais uns 20% não irão conseguir contribuir e serão lançados à assistência ganhando 400 ou 500 reais.” Logo, ao invés de proteger as gerações futuras, o que teremos daqui a 20 ou 30 anos , no dizer de Fagnani, é “um país indigente” ou “um capitalismo sem consumidor”.

Enfim, centralmente o principal retrocesso na proposta do governo é que ela destrói um dos conceitos mais bem construídos e de amplo alcance na garantia de direitos sociais, formulado na Constituição Federal de 1988, a seguridade social. Na previsão atual, articula previdência, saúde e assistência social. A proposta de reforma do governo inaugura uma nova forma de previdência que não é de seguridade, mas de seguro social, numa perspectiva de capitalização e não de direitos. Esta proposta ataca profundamente os mais pobres pois se soma à reforma trabalhista já aprovada que flexibiliza e precariza de modo profundo as relações de trabalho. Ao promover esta mudança profunda, o País deixa de



oferecer a garantia de realização dos direitos previstos no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (arts. 9º e 11, especialmente), promovendo um retrocesso imensurável e que viola este tratado internacional ratificado pelo Brasil (§ 1º do art. 2º e §§ 1º e 2º do art. 5º) e também o artigo 29 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), à qual o Brasil aderiu em 1992.

Fazer correções no sistema previdenciário é coisa que todos os países sérios fazem, mas não é justo fazer isto às custas da destruição do sistema de proteção social e que os maiores prejudicados sejam os/as cidadãos/ãs e trabalhadores/as que historicamente já pagam esta conta no país.

Brasília, 11 de março de 2019.

Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil

Assinam:

Articulação Estadual MNDH RS

Centro de Direitos Humanos de Cristalândia - Dom Heriberto Hermes

Centro de Direitos Humanos de Sapopemba - CDHS

Centro de Educação e Assessoramento Popular – CEAP

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

Coletivo Jovem de Minas Gerais

Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo – CDHPF

Comissão Pastoral da Terra

Comissão Regional de Justiça e Paz de Mato Grosso do Sul – CRJPMS

Conselho Nacional do Laicato do Brasil - CNLB

FIAN Brasil

Fórum de Direitos Humanos e da Terra

Fórum Ecumênico ACT Brasil

Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte - GPEA-UFMT

Instituto Caracol - ICA

Instituto de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais – IDHESCA

Koinonia Presença Ecumênica e Serviço

Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

Movimento Nacional de Direitos Humanos - MNDH

Movimento REBELIÃO

Observatório da Educação Ambiental - OBSERVARE

Parceiros de Misereor no Brasil

Processo de Articulação e Diálogo Internacional - PAD


Rede Internacional de Pesquisadores em Educação Ambiental e Justiça Climática - REAJA 

Rede Mato-grossense de Educação Ambiental – REMTEA

Sociedade Maranhense de Direitos Humanos


segunda-feira, 18 de março de 2019

Parte do Brasil é composta de "burros trágicos"

março 2019

                           Parte do Brasil é composta de "burros trágicos"
                                                         Leonardo Boff
Em um dos seus escritos perguntava F. Nietzsche:”Pode um burro ser trágico? Pode na medida em que sucumbe ao peso de uma carga que não pode carregar, nem pode livrar-se dela”.
Há uma boa parte de nossa população que é de “burros trágicos” num duplo sentido da palavra:
 Num primeiro sentido, “burro trágico”é aquele que facilmente se deixa enganar por candidatos que suscitam falsas promessas, com slogans apelativos meramente propagandísticos, como “Deus acima de tudo e o Brasil acima de todos”(lema nazista), “fora PT”, “combate  à corrupção”, “resgate dos valores tradicionais” “escola sem partido” contra ”a ideologia de gênero“ “combate ao comunismo”, “contra “a cultura marxista”.  Estas duas últimas bandeiras são de uma “burrice trágica”e palmar única, num tempo que nem mais comuinismo existe e que ninguém sabe o que significa exatamente “cultura marxista”.
Estes que gritam estas consignas e que se proclamam “gente de bem”, são os mesmos que mentem descaradamente a começar pelo atual capitão-presidente, por sua “famiglia”, por aqueles que disseminam conscientemente fake news, ódios, raivas fenomenais, injúrias de todo tipo, palavrões que nem seus familiares poderiam ouvir e que mandam  para o inferno, com complacência, para Cuba, Coréia do Norte ou para Venezuela os que pensam diferente.
Curiosamente  ninguém os manda para China, onde de fato vigora o comunismo-maiosmo porque sabem que  lá o comunismo funciona pois  se produziu a maior economia do mundo e que pode enfrentar militarmente a maior potência nuclear, os USA.
Esse primeiro tipo de “burro trágico” é fruto da ignorância, da falta de informação e da maldade contra quem pensa diferente.
Existe um segundo tipo de “burros “trágicos”: aqueles que são consequência de uma estratégia política de criação de “burros trágicos”, voluntariamente mantidos analfabetos, para melhor manipulá-los e terem sua base eleitoral cativa. Fazem-nos credulos e seguidores de um “mito” inventado e inflado sem qualquer conteúdo digno de “um mito”.
Essa classe, criadora de “burros trágicos", nem toda, graças a Deus, tem pavor de alguém que saiu de condição da “burrice trágica” e chegou à cidadania e a desenvolver espírito critico.
O atual governo somente ganhou a maioria de votos porque grande parte dos eleitores foram mentidos na condição de “burrice trágica”. Negou-se-lhes a verdadeira intenção escondida: de diminuir o salário mínimo, de cortar  direitos sociais, para muitos, da bolsa-família,  de modificar a  legislação trabalhista para favorecer as empresas, de liquidar a farmácia popular, de diminuir os vários acessos dos pobres ao ensino superior e, acima de tudo, da profunda modificação do regime das aposentadorias. Se tivessem revelado esta intenção  jamais teriam ganho a eleição. Por isso, ela resulta espúria, mesmo feita no rito democrático. Escandalosamente, assim como se fez com Cristo, tomaram as vestes nacionais e a sortearam-nas entre si.
Nem falemos de alguns ministros que são de uma “burrice trágica” e supina como a Ministra da Família, da Mulher  e dos Direitos Humanos, o Ministro da Educação que sequer domina nossa língua, pois é um imigrado colombiano, o ministro do Meio Ambiente que não conhecia o nome de Chico Mendes e o Ministro das Relações Exteriores, no qual a “burrice trágica” alcança sua quintessência.
Por  que chegamos a este ponto tão baixo em nossa história? Celso Furtado morreu carregando esta interrogação:”por que o Brasil, sendo um país tão rico, seja tão atrasado e tenha tantos pobres?” Ele mesmo respondeu em seu livro que vale revisitar:”Brasil: a construção interrompida”(Paz e Terra 1992):
”Falta-nos a experiência de provas cruciais, como as que conheceram outros povos cuja sobrevivência chegou a estar ameaçada. E nos falta também um verdadeiro conhecimento de nossas possibilidades e, principalmente, de nossas debilidades. Mas não ignoramos que o tempo histórico se acelera, e que a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação”(p. 35). As forças atuais em continuidade de todo um passado, se empenham em interrompê-lo na forma de uma “burrice trágica”.
Ou talvez, pensando posivitiamente, está se armando a “nossa crise crucial” que nos permitirá o salto para um outro tipo de Brasil, com outros valores e com menos processos de proposital “emburrecimento” de grande parte de nosso povo.
Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escreveu Brasil: concluir a refundação ou porolongar a dependência, Vozes 2018.