No
dia 31/08/15 uma força policial ostensiva foi enviada ao acampamento Padre José
Ten Cate, em Jaciara-MT, para cumprir a ordem de despejo dos Trabalhadores Sem
Terra da fazenda Nossa Senhora Aparecida (do Grupo Amaggi), emitida pela juíza Adriana
Sant'anna Coningham. O discurso oficial do governo do estado é de que seria uma
desocupação pacífica e os integrantes do MST, acampados e organizados, estavam caminhando
nessa direção. Todavia, o clima, sentido na pele dos que estavam presentes, era
de tensão e muita violência. Ao todo, estima-se 800 famílias acampadas. Destas,
cerca de 100 foram impedidas pela polícia de entrar no acampamento e tiveram
que ficar na beira da estrada sem água, comida ou roupas limpas; uma verdadeira
demonstração do descaso e da indiferença do poder policial e do estado para com
o trabalhador. A segurança da propriedade do grupo AMAGGI, e apenas dela, era a
palavra de ordem a guiar a exagerada força policial movida. Helicóptero, viaturas,
tropa de choque, ROTAM, GOE, cavalaria, bombeiros e SAMU, ou seja, um
verdadeiro cenário de guerra foi montado para intimidar as pessoas que o estado
devia cuidar, na sua maioria, desempregados sem nenhuma perspectiva de futuro,
abandonados pelo estado e que o MST reuniu e organizou para iniciar uma luta
por terra e melhores condições de vida para si e para o conjunto da sociedade.
O discurso de paz, vindo do gabinete da Casa Civil, não chegou aos ouvidos do comandante
da operação, Coronel Tadeu. Sua arbitrariedade foi ímpar e o fato de a polícia
não abrir fogo contra os acampados não pode ser critério para decidir se a
operação foi pacífica ou não. A humilhação dos acampados foi nítida. Mesmo com
ordens de liberação das entradas ainda na tarde do dia 31, o Coronel Tadeu
negou cabalmente o livre trânsito e disse que só permitiria a entrada dos
acampados na manhã do dia seguinte. O horário informado pelo coronel era 07 da
manhã. Todavia, contrariando a própria palavra, os acampados só puderam entrar
às 10:30 da manhã do dia 01. Sem comida, sem água e roupas limpas para o
momento; muitos, oriundos de cidades como Campo Verde não tinham onde pernoitar,
mas diante da arrogância e desumanidade da polícia, foram obrigados a se resignarem
aos caprichos de um “coronel”, num ato desmedido de completa violência, pois o
próprio estava ciente das condições dos acampados e do acordo com a Casa Civil.
Até onde manter sua arbitrariedade não passou de um capricho soberbo, inconsequente
e irresponsável ou é estratégia da polícia do estado para lidar com o povo? Ou
será que o estado não cumpre seus acordos? Perguntas para o governador Pedro
Taques responder, se tiver um mínimo de consideração pelo povo que ali estava e
por todos aqueles que apoiam a luta desse povo por dignidade humana. Outro fato
revoltante foi o impedimento do ônibus escolar entrar no acampamento para
devolver as crianças, que saíram cedo para a escola, aos seus pais. As crianças
foram encaminhadas para o abrigo municipal de onde só sairiam com o
comparecimento dos pais, que por sua vez, estavam impedidos de ir ao abrigo por
conta do cerco montado pela polícia ao acampamento. Violência, desrespeito,
desumanidade, crueldade e perversidade não dão conta do que foi essa ação, pois
que risco seria a entrada das crianças ao acampamento? E não aceitamos nenhuma
justificativa que ouse argumentar que se agiu pensando no bem-estar das
crianças, pois o bem-estar delas seria garantido facilmente com uma atuação
humanizada da polícia, mas não parecia ser essa a intenção do dia. Por estas e
outras, questionamos, até que ponto houve uma operação pacífica; ou não passou
de uma demonstração do poder do estado disposto a manter o latifúndio e o
agronegócio que financia as candidaturas por essas terras de Mato Grosso. Repudiamos
tais ações e reivindicamos o direito a um processo justo e participativo de reforma
agrária, pois mais uma vez se demonstrou que por aqui o agronegócio manda e
desmanda e possui à disposição o estado e seu aparato intimidador como o que
testemunhamos na segunda-feira do dia 31 de agosto de 2015.
Movimento
Nacional de Direitos Humanos
ADUFMAT
Cuiabá
Núcleo
Tereza de Benguela - PSOL
Consulta
Popular - MT
Assinam a nota:
FDHT - Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso
AAMOBEP - Associação
dos/as amigos/as do Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes
ABHP
- Associação Brasileira de Homeopatia Popular
ABRASP/BIO
SAÚDE - Associação Brasileira de Saúde Popular
ADUFMAT
Rondonópolis
AMB
- Articulação das Mulheres Brasileiras
ANECS
- Articulação Nacional dos Estudantes de Ciências Sociais
APS -
Ação Popular Socialista
Associação
Mato-grossense Divina Providência
CDHHT
- Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade
Centro
de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès
CFEMEA
Coletivo
Pajeu Resistência em Movimento
Comissão
Pastoral da Terra, Regional MT
Comitê
Popular do Rio Paraguai
Conselho
Regional de Psicologia - Região 18
Escritório
de Direitos humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia
Fórum
Popular em Defesa da Democracia - Roo
GPEA/UFMT
- Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte
GPMSE/UFMT - Grupo de Pesquisa Movimento Sociais e Educação
Grupo
de Estudo Merleau-Ponty e Educação
Grupo
Raízes
iCaracol
- Instituto Caracol
INHRAFE
- Instituto Humana Raça Fêmina
Levante
Popular da Juventude
MNR -
Movimento Negro de Rondonópolis
PCdoB
Rondonópolis
RECID-MT
- Rede de Educação Cidadã
REMTEA
- Rede Mato-grossense de Educação Ambiental
SINTUF
MT- seção Rondonópolis
Sociedade
Fé e Vida
União
de Mulheres de São Paulo
Fotos do despejo no acampamento Padre
José Ten Cate
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