Opera Mundi - O presidente Nicolás Maduro fez, na tarde deste sábado (23/02), em Caracas para uma multidão, um discurso em que atacou duramente Donald Trump, seu opositor Juan Guaidó e convocou o povo para seguir ao seu lado.
Maduro voltou a rejeitar a suposta “ajuda humanitária” capitaneada pelos Estados Unidos (“comida podre”) e reforçou, como tem dito, que tudo não passa de um golpe para tomada do território venezuelano. Disse que a verdade de seu país segue “invisível” diante de uma cobertura de mídia focada muito mais nos aspectos capitalistas.
O venezuelano definiu o presidente colombiano Iván Duque como seu maior inimigo na América Latina. Anunciou o rompimento total com o país, inclusive com um prazo de 24 horas para que os representantes do governo da Colômbia deixem o território.
Maduro citou o Brasil usando menos rigor – e quase com ironia. E disse que se o governo de Bolsonaro quiser, ele está disposto a comprar leite e arroz, entre outros produtos. Mas não aceita a entrada como “ajuda humanitária”.
Leia íntegra:
“Temos uma grande mobilização desde as primeiras horas da manhã, 8h30, 9h. O povo já estava em marcha, mobilizado. É impressionante a consciência das declarações que ouvi de vocês, homens e mulheres do povo. Os que nunca saem. Nunca aparecem em televisões internacionais. Estamos muito orgulhosos da força que temos. Da consciência, da coragem e do poder popular. E que se sintam orgulhosos por serem os invisíveis. Porque os invisíveis são os indestrutíveis. Os invisíveis para as caras internacionais, para os jornalistas que vêm do mundo. Ninguém mostra a consciência majoritária, porque somos maioria.
Somos alegria, somos os filhos de Hugo Chávez. Isso soa bem. Aqui está o povo nas ruas. Dou os parabéns a toda a revolução política, por estar na rua todos os dias. De ponta a ponta. A Venezuela está nas ruas, mobilizada.
Estamos numa batalha pelo direito de ter paz. Como digo sempre, estamos numa batalha pela paz, mas com independência, com integridade nacional. Com justiça social. Pela dignidade da Venezuela, ante aqueles que querem deixar nosso país de joelhos para o império americano. Estamos defendendo as fronteiras da pátria pelo direito de sermos livres. Não é tempo de traições. É o tempo de lealdade com a pátria e com os ideais supremos da Venezuela.
Eu me alimento do amor e da lealdade de vocês. Todos os dias. Sou um homem do povo. Não sou um boneco da oligarquia. Sou um homem simples. Minha escola são as fábricas, os trabalhadores. Nunca serei parte de nenhuma elite. E posso dizer do meu amor mais profundo e da minha lealdade maior. E contem com Nicolás Maduro, porque serei leal hoje e sempre nesta batalha de defender nossa independência e nossa liberdade.
Em pé, governando nossa pátria agora e por muitos anos. À frente do destino, segurando as rédeas da pátria. Em nome de você, mulher trabalhadora. Em nome de vocês, estudantes da educação média. Trabalhador, trabalhadora, camponês, camponesa, pescador, pescadora.
Governando de maneira democrática, livre, constitucional. Para o bem-estar da maioria, do povo trabalhador. E o meu compromisso supremo. Hoje, 23 de fevereiro. Há um mês, exatamente nesta hora, eu disse: passarão os dias, as semanas, e o presidente Maduro seguirá à frente da pátria. Aqui estou, cumprindo meu juramento.
E porque estou aqui? Porque vocês são aqueles que decidem o que acontece na Venezuela. E é um soco soberano que estamos dando na intervenção gringa. Aqui quem decide são os soberanos e ninguém mais.
Soberanos que me escutam: estamos aqui pelo povo que eu jurei respeitar e defender. Com a minha vida, se necessário for. Pergunto para a minoria da oposição: até quando vocês vão prejudicar o país inventando joguetes para desestabilizar a nação? Pergunto: o que vocês conseguiram em 20 anos de oposição? O que conseguiram em 30 dias com esse presidente fantoche? Pergunto: por que não pediram nova eleição se têm o poder? Ela deveria ser convocada hoje.
Eu assumi como interino, porque era vice. E convoquei eleições em 30 dias porque mandava a Constituição. Vocês sabem disso. Quando há um presidente interino, precisa convocar em 30 dias. E pergunto ao mundo: onde está a convocação da eleição presidencial se supostamente há um presidente interino? Estamos esperando que o senhor fantoche, o palhaço de mil caras, convoque eleições. Palhaço, fantoche do imperialismo americano. Vamos ver quem tem os votos e quem ganha as eleições deste país. Fantoche. Palhaço.
Eu também me pergunto: se ele é presidente, onde estão as medidas econômicas que ele tomou? As medidas sociais? Onde está o conselho de ministros? É um jogo para enganar e manipular. Um jogo fracassado de antemão. Disse e reitero hoje: o golpe de estado fracassou. A vitória nos pertence.
Fracassaram. E o que vai fazer agora? E o que vai fazer agora? Hoje quiserem ter um show a mais. Todo processo tem seu dia e sua hora. Haverá justiça na Venezuela. Para que haja paz, haverá justiça.
Ontem e hoje fizeram um show e perturbaram a vida do nobre povo da fronteira. Levaram o crime, agrediram uma jornalista chilena. Queimaram um ônibus em San Antonio. Que tremendo governo este que enche as ruas de violência. Os quadrilheiros foram identificados e irão presos.
Me vi obrigado, diante do show e da violência anunciada, a fechar a fronteira com a Colômbia. Estou avaliando o que fazer porque vamos garantir a paz e a soberania da fronteira. Não temo ninguém. Meu pulso não treme. E se é para brigar, brigo primeiro. Não devo nada à oligarquia.
Por trás dessa comida que chamam de ajuda humanitária escondem a ameaça que são Estados Unidos. O monstro Trump que nos ameaça. Traidores para sempre. Vão secar diante dos olhos do povo. Traidores.
O plano foi descoberto. Quem anunciou foi o próprio Trump na Casa Branca. Anunciou que ele está contemplando uma invasão militar contra a Venezuela. O que pensa o povo da Venezuela dessas ameaças? Fica um chamado à consciência dos homens e mulheres que têm pensamentos humanistas e pacifistas.
Chamo a solidariedade mundial. Chegou a hora de levantar as vozes. Chegou a hora do nosso povo. Tire suas mãos da Venezuela, Donald Trump. Yankee, go home. Ajuda humanitária? A quem ele ajudou na vida? Ele ama muito o povo da Venezuela…
E por que essa oposição yankee se arrasta na direção de Trump? Por que não ama nada, porque caiu num fosso profundo. Nunca caiu tão baixo. Deram golpe de estado contra Hugo Chávez em 2002 e esse povo voltou o comandante ao poder naquele heroico 12 de abril. Mas nunca haviam caído tão baixo.
Um pequeno grupo sequestrou o comando político da oposição. Eles não têm vontade própria, não têm pensamento próprio. O que seria da Venezuela se caísse no governo desta gente? O que seria de nossa pátria tão bonita se um dia esse pelego chegasse a Miraflores?
E se amanhece um dia em que sequestraram Maduro? E que o povo faria? Isso não vai acontecer. Quero dizer mais uma coisa: minha vida é consagrada integralmente à pátria. Nunca me renderia. Defenderia a pátria com a minha vida se necessário fosse. E quero que vocês saibam. Uma ordem que dou ao povo e aos militares patriotas e todas as forças armadas. Se algum dia vocês amanhecerem com a notícia que fizeram algo contra Maduro, saiam às ruas. E façam a revolução. Não duvidem nem por um segundo.
Estou seguro de que a paz vai reinar na Venezuela. Tenho certeza de que a cada dia que passa acumulamos vitórias parciais. Tenho certeza disso, vejo nos olhos de vocês, vejo no povo.
Não vamos esquecer que o ódio que despertaram é muito grande. O ódio de uma minoria. O ódio de Donald Trump contra a Venezuela. Trump odeia a Venezuela. Odeia os povos latinos e do Caribe. Por isso quer construir um muro.
Estão fazendo uma operação para trazer militares para cá, para tomar nosso país. E sempre digo: os problemas que nós temos na Venezuela devem ser resolvidos aqui em casa, entre venezuelanos e venezuelanos. Aqui em casa, sem ameaças militares. É ilegal. A carta das Nações Unidas proíbe o uso de força para se impor sobre outro Estado.
Estamos do lado certo da história. Estamos defendendo o direito internacional, o direito humanitário, a integridade e a soberania de nossa terra. Por isso que digo aos venezuelanos: por trás da ajuda humanitária há um plano de invasão. Comida podre que sobrou do exército gringo. Não sabiam o que fazer com aquilo e trouxeram. E a comida não daria para 15 mil lares. É um show fracassado. Um pacote podre. É a verdade e com a verdade não temo nem ofendo.
Quero dizer à União Europeia, que temos enorme diferenças. Nos fizeram saber que estão dispostos a ajudar. Eu falei, aceito. Mas estão bloqueando alimentos, estão bloqueando medicamentos. Serão aceitas as ajudas da União Europeia. Chegando legalmente, por portos. Não sou mendigo de ninguém, não sou mendigo de nada.
O que mesmo digo a outros países. Brasil, por exemplo. Mandei mensagem. Estamos dispostos a comprar todo arroz, açúcar, leite em pó e carne que queiram vender. De Roraima. Tudo pagando. Não somos maus pagadores nem mendigos. Somos gente honrada. Querem trazer leite em pó, arroz? Venham. Eu compro agora. Já. O que acham? Estão de acordo? Dentro da Constituição, tudo. Fora da Constituição, nada.
Ontem me contava um parente de um amigo que ele vivia aqui, na sua casa, com família, trabalho. E um dia ele pensou que no Chile iria ganhar mais, prosperar. Se deixou enganar pelas redes sociais. Com tanta propaganda. Vendeu o carro, a moto. E foi com a mulher viver no Chile. Atendendo num estacionamento por 12 horas por dia. Vivia num escritório sem banheiro. Era maltratado. Após um ano disse para a mulher: erramos, vamos voltar para casa. E agora deve estar em casa ouvindo isso.
Claro que temos problemas. Mas não fechamos uma escola. Fechamos universidades? Deixamos de construir casas? Deixamos de pagar as pensões? É importante que saibam disso. Porque com tanta campanha, as pessoas ficam sem saber o que temos. Falta muita para construir. Temos problemas? Lógico que sim. Mas quem resolverá? Donald Trump? O fantoche? A direita fascista?
Algum problema resolveremos mais rápido. Outros não vamos, mas seguiremos trabalhando. Assim é a vida, uma batalha permanente. Com suas coisas boas e ruins.
Eles poderiam ter confundido o povo em trinta dias. Conseguiram? Poderiam ter confundida as Forças Armadas? Conseguiram? Nada. Seguimos enfrentando o imperialismo. A linha-chave deste momento história é a lealdade. Lealdade sempre. A outra chave é a consciência: defender a verdade em cada bairro e em cada cidade. A outra chave é nos mantermos mobilizados sempre. Ruas e mais ruas. Povo e mais povo nas ruas. A Venezuela vai ganhar a paz. Estamos ganhando a paz todos os dias. A Venezuela vai ganhar seus direitos.
Nunca antes um governo da Colômbia tinha caído tão baixo e feito o que fez o senhor Duque. Ele tem cara de anjo. Mas eu o pegaria pelos cachinhos e diria: você é um diabo, senhor Duque.
Tudo tem limite. Tive muita paciência. A paciência que tenho é porque amo o povo da Colômbia. São 5 milhões e oitocentos mil colombianos entre nós. Que viva a Colômbia de Bolívar. Viva a Colômbia sempre. Tive paciência e pedi a Deus, dai-me paciência. Por amor ao povo colombiano que vive entre nós. Um povo órfão, sem governo.
Cúcuta, na Colômbia, tem 70% de pobreza, 40% de miséria. E não tem ajuda humanitária pata Cúcuta? Então pedi paciência, mas ela se esgotou. Não podemos seguir suportando. Decidi romper toda a relação com esse governo fascista da Colômbia. Os cônsules têm 24 horas para sair da Venezuela. Fora, oligarquia. Basta.
Pelo amor de Deus. Que nos dê sua benção. Jesus de Nazaré. Peço a benção de Deus, de todos os anjos e arcanjos. Peço a benção de nosso comandante Chávez, amado para sempre. Peço a benção do povo da Venezuela para seguir e neutralizar essa agressão que vem da Colômbia. E seguir triunfando pelo caminho da paz.
Temos uma poderosa Força Armada Bolivariana. Armada e espalhada, e pronta para defender a segurança do povo. Que viva a Força Armada Bolivariana. Digo como comandante: estou orgulhoso de seu profissionalismo, capacidade operacional, sua disciplina, obediência e de sua lealdade absoluta. Não esqueçamos nunca deste lema: leiais sempre, traidores nunca.
Quero saudar partidos de vários países que estão com a gente. A Venezuela deve seguir em paz. Trabalhando. Amanhã é domingo. Passear com a família. Defendendo a pátria. Preparando-nos para o Carnaval. Decretei dia 28 e dia 1 feriados para o grande Carnaval na Venezuela. Vamos dançar em paz. Nós merecemos, não é verdade? Sou sair de férias pela Costa Francesa, me acompanham? Vou para Nova York? Para Miami? Vou é sair para dançar junto com o povo. Não sou homem das oligarquias. Sou um de vocês. O comandante Chávez me deixou para algo. Sou tão humilde e tão simples quanto qualquer um de vocês. Tenho amor, paixão pela pátria e direito a um futuro próspero. É essa força que me anima.
E me anima o juramento que fiz ao maior bolivariano deste século, o comandante Hugo Chávez. Escute bem, Trump. Jamais sou trair o juramento que fiz, de construir o socialismo do século 21. Que viva a força revolucionária do povo. E digo de coração, hoje 23 de fevereiro, Chávez vive! O sol da Venezuela nasce. Que viva a revolução bolivariana. Abaixo a oligarquia. Acima, pátria.”