quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Janeiro, o mês do negro na América


Janeiro, o mês do negro na América


por Rafael Alexandre Lira


Batalha de San  Domingo
arte de January Suchodotski

1 de janeiro de 1804 deveria ser uma data lembrada por todos os cidadãos da América, quiçá de todos os continentes, especialmente pela população negra. Os haitianos sabem bem o significado deste dia histórico, e celebram com gosto o marco que ele traz para sua nação e para o mundo como um todo. Os europeus, especificamente os franceses, devem se lembram com certo desgosto tal dia, afinal uma derrota amarga não se esquece tão fácil.

O ápice da Revolução Haitiana teve seu marco no dia primeiro de janeiro do ano de mil oitocentos e quatro. Foi este o dia da conquista da independência, que veio por intermédio do povo negro escravizado, não pela mão do branco colonizador. Sim, fora através da união que fez a força do povo oprimido pela coroa francesa que a ilha de Santo Domingo se tornou a Primeira República Negra da América. A última batalha armada ocorreu no dia 18 de novembro do ano anterior, 1803, a Batalha de Vertières, sob a liderança do grande Jean Jacques Dessalines que com seu pequeno exército derrotou a poderosa legião de Napoleão Bonaparte.

A derrota dos franceses por aqueles "rebeldes escravizados" que se organizaram e conseguiram expulsá-los da rica ilha caribenha de Santo Domingo inflamou o coração dos negros que estavam em outras colônias distribuídas por toda a América. Rumores e informações verídicas do que havia ocorrido no Haiti começara a correr por todo o continente, influenciando assim pequenos movimentos e rebeliões até mesmo em solo brasileiro. Jean Jacques se tornou uma inspiração para todo o negro que almejava alcançar sua libertação. O historiador Clóvis Moura afirma que, em 1805, negros empregados nas tropas de artilharia do Rio de Janeiro foram presos por carregarem uma foto de Dessalines.

O primeiro dia do ano não tem um mero significado de recomeço para o povo haitiano, povo negro guerreiro e forte. Mais que isso, o dia 1 é o dia de comemorar a libertação, a liberdade, a vida. Outrora, tal povo não podia comer a sopa de abóbora que era um prato da iguaria francesa, hoje é o prato tradicional do 1 de janeiro, alimento este o qual haitianos no mundo todo comem e repartem com seus compatriotas nesta data inesquecível. Aqueles que tem condição fazem e doam àqueles que não tem, a fim de que todos celebrem juntos em memória dos seus ancestrais.

Na bandeira do Haiti a frase em francês "L'union fait la force" faz relembrar o segredo do que trouxe a vitória do povo negro sobre o branco opressor: a força da união! Sem esta a derrota era certa, o exército inimigo era mais numeroso e fortemente armado. Porém, a sede de liberdade e o desejo de ser por si e para si fez deste pequeno exército uma nação independente, única e inspiradora para todos os povos da terra.
O Haiti vive, 
vive o Haiti!

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REFERÊNCIA
LIRA, Rafael. Janeiro, o mês do negro na América. In Lume Mato Grosso, edição 27, p. 37, 2018.


3 comentários:

  1. Meus parabéns meu companheiro,meu amigo,meu irmão o nome da associação de Defesa dos Haitianos Imigrantes e Migrantes em Mato Grosso ADHIMI MT.

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  2. Muito obrigado, meu amigo. Estamos juntos nessa luta! Grande abraço...

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  3. Grande abraço Lira pelo esse trabalho tão especial sobre a história do negro da América e em particular sobre a terra da liberdade nossa lindíssima Haïti.
    Continua assim que Deus te abençoe grandemente.
    Happy Independence Day Haiti ����
    God bless America

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