segunda-feira, 27 de abril de 2015

Entenda a verdade: 15 Fotos e 10 Fatos sobre o Holocausto

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Entenda a verdade: 15 Fotos e 10 Fatos sobre o Holocausto




Dormitório coletivo de judeus em campo de concentração polonês, 1943.

Quando Adolf Hitler assumiu o comando da Alemanha em 1933, aquele país iniciou a institucionalização de uma ideologia mortífera. Se por um lado a repulsa aos judeus e outras categorias já existia na Europa há séculos, seria inédita a postura assumida pelo governo para lidar com essa situação. Sustentados por um pensamento pseudo-científico conhecido como darwinismo social, os nazistas perseguiram e executaram milhões de civis em um episódio que ficou conhecido como Holocausto.

Apesar do tema ser exaustivamente trabalhado, as dúvidas a seu respeito são numerosas. Boa parte do que se "sabe" sobre o holocausto é baseado em filmes que às vezes partem para o apelo emocional, fugindo à realidade. No campo científico os estudiosos acabam sendo mais cuidadosos com números e análises.

Este artigo reúne alguns dos principais fatos sobre a perseguição e extermínio massivo de milhões de pessoas. Afinal, quem, quando e quantos foram atingidos? Quem foi o responsável e quais suas motivações? Existe algum nível de exagero ou distorção da verdade? Leia essas respostas e veja fotografias que poderão contextualizar melhor este tema.

(clique nas imagens para ampliar)

1 - O Holocausto era sustentado por uma pseudo-ciência
Uma pseudo-ciência que chegou a ser lecionada em universidades está diretamente ligada às práticas desumanas aplicadas durante o Holocausto: a Eugenia. Seu principal objetivo era desenvolver maneiras de manipular e otimizar a evolução humana de acordo com os princípios darwinistas aplicados à humanidade (darwinismo social). Na prática se tornou terreno para legitimar o racismo e defender práticas extremamente polêmicas, como a esterilização e extermínio de grupos genéticos inteiros. Por questões que envolvem ética e a prova da inexistência de diferentes raças humanas, a eugenia já não é mais considerada uma ciência, entretanto ainda nos dias de hoje é possível observar a aplicação e defesa de seus princípios principalmente em países europeus.

Soldado nazista ridiculariza os cabelos do jovem e aflito judeu polonês. Observe que ele carrega uma tesoura na mão esquerda.

2 - O Holocausto começou antes da Segunda Guerra Mundial
Desde o começo da década de 1930, quando os nazistas chegaram ao poder, começaram a surgir diversas leis de cunho racista que visavam limitar os direitos dos judeus, as novas regras proibiam desde a realização de casamentos entre judeus e arianos até mesmo a frequentar locais públicos (inclusive hospitais). Pode parecer estranho imaginar que a comunidade internacional conviveu com isso por anos, mas esta é a realidade. Enquanto os judeus mais ricos simplesmente fugiram para outros países, os mais pobres ficaram até o cerco se fechar.

Sinagoga completamente destruída durante a Noite dos Cristais (Kristallnacht), Dortmund, Alemanha, 1938. A Noite dos Cristais foi uma onda de violência antissemita ocorrida após o assassinato de um embaixador alemão por um judeu na França. Praticamente sem qualquer interferência da polícia ou corpo de bombeiros, cidadão alemães enfurecidos destruíram templos e saquearam lojas em um episódio que resultou na morte de dezenas de judeus em toda a Alemanha. O nome Noite dos Cristais faz referência ao grande número de vidraças (das lojas judaicas) quebradas pela população naquela madrugada.

3 - O Holocausto não se resumiu aos judeus
Não há dúvidas que o povo mais perseguido pela Alemanha Nazista foi o judeu, mas não foram somente eles que sofreram perseguições, prisões e execuções sumárias. Entre os indesejáveis do Terceiro Reich também figuravam outros grupos étnicos não-arianos, como os ciganos e eslavos. Outras categorias como aleijados, homossexuais e inimigos políticos (comunistas, anarquistas, testemunhas de jeová, etc...) também acabaram em campos de concentração.

Prisioneiro britânico frente a Heinrich Himmler, um dos grandes idealizadores do Holocausto.

4 - Muitos prisioneiros foram usados como cobaias para experimentos médicos
O uso de cobaias humanas hoje em dia é algo extremamente delicado e sua discussão sobre questões éticas acaba impondo limites às realizações de determinados testes. No contexto do holocausto alguns médicos nazistas realizaram experiências mortíferas que envolviam homens, mulheres e até mesmo bebês. O principal responsável por essas experiências foi Josef Mengele, conhecido como O Anjo da Morte, médico chefe do temido campo de extermínio Auschwitz-Birkenau. Fontes indicam o uso de milhares de prisioneiros em experiências quase sempre fatais, e quando a vítima sobrevivia, era executada para uma análise de seu cadáver. Entre as experiências realizadas podemos citar: exposição à radiação, congelamento, consumo exclusivo de água do mar e até mesmo dissecação de vivos para observar a evolução de doenças e infecções.

Crianças ciganas em estágio avançado de desnutrição. Elas foram usadas como cobaias em experimentos médicos em Auschwitz, Polônia, 1943.

5 - A política de perseguição evoluiu gradualmente para um sistema de extermínio em proporções industriais
Como já foi dito anteriormente, a perseguição começou de fato com a imposição de leis limitadoras cada vez mais incômodas. Os judeus foram afastados de todos os cargos públicos, suas crianças foram expulsas das escolas e se criaram instituições para expulsá-los do território alemão. Com o início da Segunda Guerra os cuidados para maquiar o anti-semitismo para a comunidade internacional cessaram, judeus agora eram obrigados a andar com uma estrela de identificação, gradualmente foram forçados a habitar regiões segregadas (os chamados guetos) onde faltava tudo, desde moradias suficientes até alimentação e ofertas de trabalho. Quando o conflito mostrou maiores dificuldades para a vitória nazista, entrava em cena a chamada Solução Final: prisioneiros eram levados para campos de extermínio, verdadeiras "fábricas de morte" movidas a envenenamento com um gás pesticida chamado Zyklon B. 

Essa é uma das imagens mais conhecidas quando o assunto é Holocausto. Se trata de um grupo de judeus rendidos após uma revolta no Gueto de Varsóvia, 1943.

Trem lotado de judeus a caminho de Auschwitz, 1942.

As paredes arranhadas transmitem o desespero de dentro de uma câmara de gás de Auschwitz.

Pilha de óculos de prisioneiros confiscados pelos nazistas em Auschwitz, foto de 1945.

6 - A propaganda sobre o Holocausto foi muito explorada na Segunda Guerra Mundial
Ao longo do conflito os rumores sobre o que os nazistas faziam com seus inimigos foram explorados ao máximo. Por anos essas informações eram vistas com muita desconfiança. Do lado nazista a mensagem que se passava era que os prisioneiros estavam em lugares agradáveis e o ódio antissemita só aumentava uma vez que a evolução da guerra deixou claro que a derrota seria inevitável. Do lado dos aliados se explorou o Holocausto como forma de convocar países em um esforço contra as atrocidades do eixo. O excesso de simbolismo usado pelo Terceiro Reich facilitava a propaganda: imensas bandeiras, suásticas, runas e a liderança caricata de Adolf Hitler despertavam emoções intensas que variavam entre amor e ódio.

Judeu desnutrido se esforça para se manter de pé no campo de concentração de Buchenwald, na Alemanha, 1944.

7 - Apesar das denúncias e forte propaganda, a libertação dos prisioneiros não era prioridade dos Aliados
Uma contradição amarga a ser lembrada é que os Aliados não direcionaram o esforço de guerra para a liberação dos judeus. Ao invés disso, se observou uma corrida pela aniquilação do Estado Nazista. Isso remete às divergências nos interesses políticos das duas partes que formaram as Potências Aliadas, o único elemento que ligava a União Soviética ao ocidente era o inimigo em comum (Hitler), no mais, eles eram adversários. Sendo o rápido avanço soviético no front oriental uma forte ameaça da dominação comunista no continente europeu.

Judeu encarregado de distribuir braçadeiras com a Estrela de Davi. A lei nazista exigia que o judeu se identificasse com esse símbolo.

8 - Nem todos os aliados de Hitler colaboraram com o Holocausto
Entre civis, diplomatas e até mesmo governantes, vale lembrar que nem todos aqueles que estavam alinhados com os interesses do Eixo ofereceram cumplicidade no Holocausto. Diferentemente de países como a Itália Fascista e a França Colaboracionista, que aplicaram leis antissemitas e deportaram seus cidadãos para campos de extermínio, houve casos de gente que ofereceu resistência e até se arriscou para salvar alguns judeus. A título de exemplo, diplomatas de diversos países como Portugal e Espanha abrigaram judeus e outras minorias em suas embaixadas. No caso da Espanha foi notável a maior resistência em entregar judeus, mas descobertas recentes evidenciaram que o ditador fascista Francisco Franco (ao contrário do que ele disse à comunidade internacional) entregou cerca de 6 mil judeus para Hitler.

Judeus em Berlim caminham com a Estrela de Davi costurada em suas roupas, 1941.

Vista da entrada de Auschwitz - Birkenau, o principal campo de extermínio nazista, lugar onde morreram mais de um milhão de vítimas do Holocausto.

9 - A população alemã em geral não sabia exatamente o que se passava nos campos de concentração
A demonização da ideologia nazista é um tema extremamente delicado quando lembramos que Hitler chegou ao poder de forma democrática e boa parte da população da Alemanha aprovava calorosamente o regime. De fato o racismo era algo presente naquela nação, mas isso não significa muita coisa: se você observar com cautela os principais jornais circulantes na Inglaterra e Estados Unidos naquele período, vai perceber que o racismo e a segregação também existia nesses países. Apesar de haver casos de violência explícita contra judeus por parte de civis alemães, as atrocidades cometidas nos campos de concentração eram mantidas em sigilo pelo alto comando nazista.

Jovem alemã se assusta ao ver os corpos exumados das vítimas do Holocausto. Os Aliados chegaram a desenterrar centenas de cadáveres para obrigar a população a encará-los em troca de comida, Namering, Alemanha, Maio de 1945.

10 - Os dois lados da guerra tentaram distorcer o Holocausto
Quando se fala em Holocausto é comum remeter às grandes produções cinematográficas a respeito. Isso é grave, precisamos contextualizar o evento e o momento de sua revelação ao mundo: com o fim da Segunda Guerra Mundial a descoberta dos campos de concentração aqueceu o desejo de estabelecer uma pátria para os judeus, assim, se procurou potencializar o episódio com diversos artifícios. Muitas fotografias tiveram um cenário forjado, soldados recolheram e empilharam corpos, prisioneiros doentes foram selecionados a dedo para compor imagens chocantes.

Entendida a posição Aliada, deve-se observar com ainda mais atenção a postura dos chamados revisionistas. Entre estudiosos e completos leigos, eles utilizam fontes duvidosas para questionar uma das atrocidades mais bem documentadas da história. Eles são impulsionados por pensamentos simpáticos ao nazismo ou ódio religioso relacionado aos conflitos com a formação do Estado de Israel e a população palestina. O xiita Mahmoud Ahmadinejad, atual presidente do Irã, em uma declaração pública chamou o Holocausto de "mito", posicionamento comum entre os islâmicos mais radicais. A revisão da história, quando feita com seriedade, é um papel muito importante para desconstruir certas ilusões. A necessidade de reanalisar o Holocausto não seria de tamanha polêmica se dezenas de países não considerassem crime a sua prática, atitude gravíssima, uma vez que não existe tema histórico de veracidade incontestável.

Prisioneiros do campo de concentração de Buchenwald, Março de 1945.

Algumas fontes:

Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco.

O Cangaço: 12 fotos e 7 fatos impressionantes sobre um Brasil fora da lei

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O Cangaço: 12 fotos e 7 fatos impressionantes sobre um Brasil fora da lei

Zé Sereno e outros três cangaceiros de seu bando, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

Essa é uma parte do país que por séculos se manteve oculta, um Brasil quase mitológico de tamanha particularidade. À própria sorte desde que se tem notícia, onde o Estado só comparece para cobrar tributos e a escassez está sempre por perto. Cidades e minúsculos distritos são controlados por figuras que muito bem se assemelhariam a senhores feudais, os coronéis, como eram conhecidos, eram autoridade máxima. Autoridade quase sempre incompatível com as péssimas condições de vida do sertão nordestino.

Foi nesse contexto que surgiu o Cangaço. Um banditismo digno dos clássicos filmes de faroeste, onde criminosos itinerantes driblavam a lei atravessando fronteiras estaduais.Sempre acompanhadas de sangue,  as histórias do Cangaço remetem a pessoas muito humildes que, por um motivo ou outro, se recusaram a seguir a inércia de permanecer sob controle dos coronéis, optando por um caminho incerto que tratava com especial truculência aqueles tidos como seus inimigos. 

Mas o Cangaço não possuía apenas inimigos, entre fazendeiros estrategicamente aliados e outros pobres sertanejos, a opinião pública se manteve dividida. Se os miseráveis insatisfeitos com os abusos dos coronéis se sentiam representados na contestação desaforada daqueles homens e mulheres fora da lei, os frequentes requintes de crueldade e frieza garantiam o medo e a tensão permanente nas cidades por onde passavam os bandos de cangaceiros. 


Maria Bonita, mulher de Lampião, posa para o fotógrafo libanês Benjamin Abrahão junto aos seus dois cães, Guary e Ligeiro, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

#1 - O poder absoluto dos coronéis no Sertão. 

Desde os tempos do Império, a falta de interesse do Estado pelo Sertão obteve efeitos sangrentos na região. Entre os mais devastadores episódios de clara resposta à situação negligente e única presença para cobrança de tributos, destaca-se a Guerra de Canudos e o fenômeno de banditismo conhecido como Cangaço. Ambas as experiências possuíam em sua essência o sentido de contestação das figuras conhecidas como coronéis.

Em meio a uma vasta extensão territorial de pouco interesse público, o Império instituiu a titulação de Coronéis da Guarda Nacional para grandes latifundiários Brasil a dentro. Na prática, o governo passou a legitimar uma relação de domínio que já se fazia efetiva desde os tempos coloniais.Os coronéis eram, quase sempre, pessoas que possuíam total influência na atividade econômica de cidades inteiras. O que representava poder absoluto em uma região onde a opção era se submeter ou sucumbir.

Os coronéis eram homens acima da lei. A
lém da tradicionais forças policias, também submetidas aos seus interesses, eles tinham sua própria "polícia", eram capangas conhecidos como jagunços: figuras armadas que tratavam de fazer a guarda de terras, castigar e executar inimigos de seus chefes. Foi a truculência desses jagunços que deu origem à jornada de diversos cangaceiros motivados pelo desejo de vingança. 
Virgínio Fortunato, cunhado de Lampião, posa sorridente junto aos "cabras" e mulheres de seu bando para as lentes de Benjamin Abrahão, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

#2 - A vida criminosa como alternativa à miséria e submissão. 

As condições naturais do Sertão são especialmente infavoráveis à vida humana. Os longos períodos de estiagem castigam seus habitantes através dos efeitos consecutivos que a falta d'água produz. O gado morre e as plantações ficam comprometidas, assim, famílias inteiras tentam se equilibrar num contexto de subsistência precária. Quando havia oferta de emprego, ou melhor, de trabalho, ela era ligada ao coronel da região, figura nem sempre louvável.

"Inteiramente só, o sertanejo é um homem abandonado a sua própria sorte, nada lhe resta senão a desesperança. Ou a rebeldia, que é um simples efeito de causas profundas, da ausência de justiça, analfabetismo, precariedade de comunicação, baixos salários, débil capitalismo e um lentíssimo desenvolvimento das forças produtivas."

Pensar nas autoridades da região como figuras de violência e senso de justiça similar aos dos temidos cangaceiros faz com que se compreenda melhor como tantos sertanejos optaram por esse caminho. A vida criminosa não era nada cordial, mas entre fugas e investidas, oferecia o poder de ter tudo aquilo que passava longe da realidade da maioria: ouro, respeito e mulheres (e sobre este último ponto, como é de se imaginar, o estupro era algo recorrente).


Corisco, o primeiro a esquerda, tendo ao seu lado a companheira Dadá e integrantes do seu grupo, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

#3 - O sangrento preço da vida entre os cangaceiros. 

O vermelho é uma cor muito compatível com o trajeto do Cangaço, não apenas pelo coro de luta ou coragem, mas principalmente pelo sangue. Se entre os coronéis, representantes da lei no Sertão, a violência já era evidente, no Cangaço ela era uma assinatura. O traço hediondo da tradicional execução por sangramento era regido pelo punhal, introduzido em pontos vitais de suas vítimas. Para lidar com tamanha rotina, outra característica chamava atenção: a frieza aterrorizante. 

Ao passo que se comandava torturas e execuções, as histórias também falam dos cangaceiros como figuras musicais e risonhas. Como se a vida e a morte fosse (e era mesmo) parte do dia-a-dia daquelas pessoas. 

Já dizia o mítico Rei do Cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião:

"Três coisas eu trago de Pernambuco: dinheiro, coragem e bala."

Bem como a tradição oral transmite, em certa ocasião um sujeito estava cometendo incesto e foi flagrado por Lampião, o cangaceiro separou os dois irmãos e trouxe o rapaz para conversar. Ele falou para o homem que ele devia colocar os seus testículos dentro da gaveta e fechar com chave. Em seguida, Lampião colocou um punhal sobre o criado-mudo e disse "Volto em dez minutos, se você ainda estiver aqui eu te mato".

Assim se construiu uma lenda, e essa é só uma das histórias que se contam até hoje. 

O lendário cangaceiro Lampião posa para foto segurando uma edição de um dos jornais que costumava ler, "O Globo", 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

#4 - A opinião pública dividida entre amor e ódio.

Lampião já era uma lenda viva antes mesmo de sua vida ser documentado pelo corajoso jornalista sírio-libanês, Benjamin Abrahão.  Tratado pela polícia dos estados como uma verdadeira praga a ser exterminada, temido por onde passava, ainda assim ganhou a simpatia de muita gente. Virgulino tinha a confiança de gente de diversos setores da sociedade: coronéis, sertanejos e até mesmo a igreja, representada pelo inigualado Padre Cícero, a quem se deposita regionalmente o prestígio de uma santidade. 

A situação de considerável apoio da sociedade pode se amparar no senso de justiça em crítica à força oficial vigente. O respeitado historiador britânico, Eric Hobsbawn, em uma de suas obras (Bandidos/1969), apontou o Cangaço brasileiro como um exemplo claro do fenômeno do banditismo social, que se alinhava ao princípio de contestação, como um sentido primitivo de revolta. 

“O ponto sobre bandidos sociais é que eles são criminosos camponeses a quem o senhor feudal e o Estado enxergam como criminosos, mas que permanecem dentro da sociedade camponesa, e são considerados por seu povo como heróis, como campeões, vingadores, lutadores pela justiça, talvez até mesmo líderes de libertação e, em qualquer caso, homens para serem admirados, ajudados e apoiados. Esta relação entre o camponês comum e o rebelde, bandido e ladrão é o que faz o banditismo social interessante e significativo.
Eric Hobsbawn

Volantes do estado da Bahia em registro de Benjamin Abrahão, circa 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

#5 - Volantes: a polícia especial dos estados treinada com as mesmas práticas dos cangaceiros.

Por décadas a República simplesmente amargou a inferioridade de suas forças diante do preparo e conhecimento preciso dos bandos cangaceiros. Equipados com cangas de madeira e utensílios metálicos (daí o nome cangaço: canga+aço), esses grupos eram compostos por homens (e também, muito raramente, mulheres) de invejável experiência de combate, sempre furtivos e ágeis.

Nas cidadelas invadidas, a polícia costumava ser ínfima e sem a menor condição para impedir investidas tão bem articuladas. Quando chegava algum reforço capaz de enfrentá-los, os cangaceiros simplesmente desapareciam em rotas de fuga que os levavam para outros estados, onde somente as forças policiais correspondentes poderiam atuar.

A reação dos estados foi precisa: responder na mesma moeda. Foram constituídas as chamadas forças volantes, o braço cangaceiro da polícia, formadas por homens (alguns deles até ex-cangaceiros) de preparo e práticas de combate idênticas às dos bandos criminosos. Assim, rotas de fuga, abrigos e investidas furtivas estavam mais sujeitas a falhas. 

O encontro de Abrahão com o bando de Virgulino, em foto tirada pelo cangaceiro Juriti. Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado, Quinta-Feira, foto de 1936. (Acervo Abafilm).

#6 - O jornalista libanês que documentou a vida dos cangaceiros.

Figura responsável pelos mais preciosos registros iconográficos do Cangaço, Benjamin Abrahão Botto conheceu de perto, por vários meses, a rotina de diversos bandos cangaceiros, inclusive os dos notáveis Corisco e Lampião. Ele foi por muitos anos secretário de Padre Cícero em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, até que com a morte do sacerdote em 1934, colocou em prática seu projeto mais ambicioso: filmar e fotografar Lampião e seu bando.

Se aproveitando da ligação de Lampião com Padre Cícero, Abrahão facilmente se aproximou do cangaceiro. Lampião era uma figura extremamente vaidosa, característica que o consolidava como Rei do Cangaço, se deixando acompanhar pelo jornalista. O material coletado ao longo de cerca de 2 anos (1936 e 1937) era de extrema preciosidade e foi recebido nas grandes metrópoles como um verdadeiro escândalo. O Cangaço era uma ofensa ao Estado Novo de Getúlio Vargas, que tratou de censurar e confiscar o registro de Benjamin. 

“As fotos e filmes de Benjamim eram um atestado da incompetência das forças policiais e uma afronta ao Palácio do Catete”
Frederico Pernambucano de Mello

O sírio-libanês Benjamin Abrahão trouxe a público relatos detalhados sobre a rotina e características dos bandos cangaceiros, o que pode ter sido nocivo à estratégia dos bandos, cada vez mais combatidos em esfera interestadual. Em menos de três anos a maior parte dos principais bandos foi desmantelada, inclusive com a execução de Lampião (1938) e Corisco (1940). O próprio Benjamin também teve seu fim em 1938 (dois meses antes da morte de Lampião e seu bando), vítima de nada menos que 42 facadas em um assassinato até hoje não esclarecido. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, a mesma força que matou Lampião, matou Benjamin: o desmoralizado Estado Novo. 

“Antes que o Estado Novo espatifasse o sistema de poder do sertão, era alto negócio para qualquer fazendeiro comercializar com o cangaceiro. O Estado Novo acabou com esse colaboracionismo. A morte de Benjamin foi, sobretudo, uma queima de arquivo histórica.
Frederico Pernambucano de Mello
Cangaceiro Barreira posa junto à cabeça de seu ex-companheiro de bando, Atividade, como prova de lealdade à volante. 

#7 - Um cerco que se fechava: a falência dos bandos e o fortalecimento do combate ao cangaço.

Com o passar dos anos, a forma que o Estado tratava o Cangaço era cada vez mais madura. A segunda metade dos anos 1930 foi especialmente difícil para os bandos cangaceiros. Um a um, os criminosos iam sucumbindo ou se entregando em troca da anistia. O marco do fim dos tempos do Cangaço foi a emboscada que executou Lampião, Maria Bonita e diversos membros de seu bando. Suas cabeças foram expostas ao público em muitas cidades do Sertão nordestino.

“Naquela época, Lampião mobilizava grossos capitais. Travava com coronéis da região que financiavam seus roubos e recebiam parte do lucro. Seu bando era a imagem do sucesso da organização fora da lei."
Frederico Pernambucano de Mello

O fim do Cangaço foi causa direta da insatisfação com tamanha desmoralização do Estado Novo causada pelas imagens de Abrahão. Não só como atividade marginal, mas também como exemplo escancarado da corrupção de coronéis colaboradores, Cangaço era uma afronta a Getúlio Vargas e sua proposta ideológica. E sistematicamente pagou o preço da visibilidade que adquiriu.

Cadáver do cangaceiro Cirilo de Engrácia, morto por civis e usado como exemplo pela volante alagoana. A cabeça de Cirilo já havia sido decepada, foi recolocada para a foto. 1935. (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).

Cabeças cortadas de membros do bando de Lampião, incluindo o próprio e sua parceira, Maria Bonita, mortos em uma emboscada em Porto da Folha, Sergipe. Elas foram expostas como troféu na escadaria da Prefeitura de Piranhas, no estado de Alagoas, este episódio simbolizou o fim dos tempos áureos do Cangaço. Foto de 1938 (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).


Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL, 1938. (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).

O médico legista Charles Pittex segura as cabeças mumificadas de Lampião e Maria Bonita, elas ficaram expostas por muitos anos na Faculdade de Medicina da Bahia, foto de 1939. (Autor desconhecido).

Fontes:
HOBSBAWM, E.J. Bandidos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1969.
MELLO, Frederico Pernambucano. Guerreiros do sol – violência e banditismo no nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.
http://cebes.com.br/2014/07/a-historia-do-odio-no-brasil-por-fred-di-giacomo/
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1472857&tit=O-cangaco-segundo-Graciliano-Ramos
http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/a-morte-de-lampiao-9394818
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/um_sertanejo_das_arabias.html
http://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalrs/marcosclemente.html
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,iconografia-do-cangaco-traz-revelacoes-sobre-lampiao,869874
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/sobrecultura/2013/05/entre-deus-e-o-diabo-1
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL703549-5598,00-CONHECA+AS+SEIS+PRINCIPAIS+LENDAS+SOBRE+LAMPIAO.html

Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco.

domingo, 5 de abril de 2015

ibope derrotado na Justiça. Globo treme!

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http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Ibope-derrotado-na-Justica-Globo-treme-/12/33173


Ibope derrotado na Justiça. Globo treme!

O Ibope cumprirá sentença que obriga o instituto a revelar os dados confidenciais de sua metodologia de aferição de audiência.


Altamiro Borges
doTiode
Na semana passada, a Rede Globo sofreu mais um baque. Após 14 anos de disputa judicial, o SBT conseguiu finalmente vencer a ação movida contra o Ibope. A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça recusou recurso do instituto de pesquisa e manteve, em decisão final, a sentença de 2003 que o obriga a revelar os dados confidenciais de sua metodologia de aferição de audiência - a sinistra "caixa-preta" que sempre foi acusada de beneficiar a TV Globo. "O processo acaba de ser declarado 'transitado em julgado', ou seja, não cabem mais recursos. O SBT aguarda apenas o cumprimento da sentença", informa o jornalista Paulo Pacheco, do site especializado "Notícias da TV".

A briga entre a emissora de Sílvio Santos e o Ibope - também apelidado de Globope - foi deflagrada em 2001. Na ocasião, o SBT questionou a medição de audiência do instituto e foi punido pelo Ibope com a suspensão de 24 horas do serviço, alegando violação das regras de sigilo. Sentindo-se lesada, a emissora processou o Ibope e exigiu o acesso aos dados confidenciais da medição. Em 2003, o SBT obteve a primeira vitória. O instituto foi condenado pela Justiça paulista a pagar R$ 30 mil por dia para a emissora caso não mostrasse a "forma, a metodologia e os elementos utilizados em todos os mecanismos para pesquisa de audiência e apuração de resultados". O Ibope ainda recorreu a outras instâncias, mas agora foi finalmente derrotado, em definitivo, pelo STJ. Não cabem mais recursos!

Como relembra Paulo Pacheco, "enquanto brigava com o Ibope na Justiça, o SBT chegou a oferecer dinheiro a quem revelasse possuir um peoplemeter, aparelho que mede a audiência em tempo real. Em São Paulo, há cerca de 930 aparelhos instalados em sigilo em domicílios escolhidos pelo Ibope. No Brasil, são cerca de 6.000. Com a sentença, o SBT espera agora ter acesso à localização dos peoplemeters para verificar se a amostra do Ibope realmente representa as classes sociais e sua distribuição geográfica". A medição da audiência - esta verdadeira "caixa-preta" - é decisiva para a obtenção de bilionários recursos em publicidade privada e pública. Aberta, ela poderá confirmar a manipulação dos dados e representar um duro baque para a Rede Globo. A conferir!