sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Jornal satírico alvo do maior ataque terrorista em França

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Jornal satírico alvo do maior ataque terrorista em França

Homens armados com metralhadoras entraram nas instalações do Charlie Hebdo, em Paris, e abriram fogo sobre a redação, deixando doze mortos e quatro feridos em estado crítico. É o mais grave atentado terrorista em França desde 1835.
Imagem de dois dos atiradores disparando contra um carro da polícia antes de se porem em fuga. Foto Elise Barthet/Twitter
O ataque ocorreu esta quarta-feira de manhã e segundo testemunhos divulgados pela imprensa, dois homens encapuçados e armados de metralhadoras entraram no edifício do jornal e abriram fogo à sua passagem. As autoridades confirmaram 12 mortos e quatro feridos em estado crítico na sequência deste ataque. Entre os mortos estão os desenhadores Charb, que dirigia o jornal, Cabu, Wolinski e Tignous. Os atiradores conseguiram fugir, disparando contra a polícia que protegia o local e matando dois agentes.
O presidente francês reagiu ao atentado elevando o alerta antiterrorista na zona de Paris e colocando outros jornais sob proteção policial. "A França está em estado de choque. Trata-se sem dúvida de um atentado terrorista"
Charlie Hebdo é conhecido pelo seu humor corrosivo que não poupa partidos, instituições ou religiões. Em 2006, na sequência da onda de indignação por causa das caricaturas de Maomé publicadas por um jornal dinamarquês, o Charlie Hebdo decidiu republicá-las em França, o que lhe valeu um processo em tribunal por injúrias, em que acabou absolvido.
Já em 2011, outra caricatura de Maomé voltou a fazer capa  do jornal, a propósito do regresso da charia na Líbia, sobrepondo ao cabeçalho do jornal o nome "Charia Hebdo".  Na mesma madrugada em que o jornal saía para as bancas, um cocktail molotov incendiou a sede do jornal, que se tornou um alvo dos grupos integristas islâmicos.
A capa da edição do Charlie Hebdo no dia do atentado faz referência ao polémico livro "Submissão", de Michel Houellebecq.
Esta semana, a capa do jornal satírico evoca o livro lançado esta quarta-feira e que está a provocar polémica em França. "Submissão", um romance de Michel Houellebecq, conta a história da ascensão de um muçulmano à presidência de França, levando à instauração da poligamia e do uso do véu, com o próprio narrador do romance a a converter-se ao Islão para manter o seu emprego. O livro já lidera a lista de pré-encomendas na Amazon francesa e tem sido defendido e atacado com garra nos meios políticos e culturais, havendo quem o compare a "1984" de Orwell e quem o acuse de servir para abrir caminho à extrema-direita de Marine Le Pen.
(Atualização): Reações de condenação e manifestações de solidariedade
Por todo o mundo surgiram ao longo do dia mensagens de condenação do atentado à redação do Charlie Hebdo. Em Portugal, a condenação foi unânime na primeira sessão plenária da Assembleia da República e o voto proposto pelo Bloco será aprovado na sexta-feira.
Também o Sindicato dos Jornalistas repudiou o atentado e prestou homenagem "presta homenagem à resistência e à coragem dos que, enfrentando riscos tão inesperados como a brutal fuzilaria que esta manhã irrompeu pela redacção do “Charlie”, amam até aos limites a liberdade de expressão".
O Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que representa a comunidade muçulmana em França e é presidido pelo imã da Grande Mesquita de Paris, também repudiou o massacre no Charlie Hebdo, ao afirmar que "este ato bárbaro de extrema gravidade é também um ataque contra a democracia e a liberdade de imprensa".
O imã da mesquita de Lisboa também se pronunciou contra estes "atos bárbaros de crueldade" e afirmou que se os autores forem muçulmanos isso "preocupa-nos ainda mais", uma vez que "utilizam o Islão de forma negativa" e denigrem a "mensagem da tolerância e da paz que ele transmite".
O Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que representa a comunidade muçulmana em França e é presidido pelo imã da Grande Mesquita de Paris, também repudiou o massacre no Charlie Hebdo, ao afirmar que "este ato bárbaro de extrema gravidade é também um ataque contra a democracia e a liberdade de imprensa".
"Num contexto político internacional de tensões alimentado por delírios de grupos terroristas que se aproveitam injustamente do islão, apelamos a todos os que estão associados aos valores da República e da democracia que evitem as provocações que apenas servem para deitar gasolina no fogo", acrescentou o comunicado do CFCM.
Esta quarta-feira ao fim da tarde realizam-se concentrações de solidariedade com as vítimas deste atentado em dezenas de localidades francesas. Os partidos parlamentares da esquerda francesa convocaram para o próximo uma marcha silenciosa em Paris para prestar homenagem aos mortos e feridos do ataque. Entretanto, a empresa detentora do diário Le Monde, a Radio France e a emissora pública de televisão colocaram os seus meios humanos e materiais à disposição do Charlie Hebdopara que possa prosseguir a sua publicação.

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