sábado, 24 de janeiro de 2015

Como o maior inimigo da Al Qaeda tomou o Iêmen e por que os EUA não irão apoiá-lo

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Como o maior inimigo da Al Qaeda tomou o Iêmen e por que os EUA não irão apoiá-lo

O presidente iemenita Abdu Rabbu Mansour Hadi, seu primeiro-ministro e seu gabinete de governo inteiro renunciaram em massa essa semana


Jeremy Scahill e Casey L. Coombs, The Intercept
RT

Sanaa – O presidente iemenita Abdu Rabbu Mansour Hadi, seu primeiro-ministro e seu gabinete de governo inteiro renunciaram em massa ontem, apenas 24 horas depois de os rebeldes Houthis ocuparem o complexo presidencial em Sanaa. As demissões dão poder sem precedentes aos Houthis, uma minoria xiita dos planaltos nortenhos isolados do país.

A crise política também abre a porta para uma guerra aberta sobre o controle da capital do Iemên, envolvendo facções políticas sunitas e a al Qaeda na Península Arábica ou AQAP. O conflito pode também se arrastar para Arábia Saudita, EUA e Irã.

As ruas da capital do Iemên estão agora um labirinto de postos de verificação, alguns ainda tripulados por forças do governo usando uniformes militares, mas a maioria esses dias é controlada pelos Houthis. Diferentemente das forças do governo, os Houthis se vestem tipicamente com um xale no rosto e uma saia conhecida como ma’awaz.

Armados com AK-47, os Houthis estão primeiramente procurando por membros da AQAP.

Os Houthis, no entanto, estão provando rapidamente que a velha máxima “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, não é sempre verdade. Enquanto são inimigos mortais da AQAP, os Houthis tripulando os postos de verificação frequentemente adornam suas AK-47 com adesivos com o lema do grupo: “morte à américa, morte a Israel, maldição aos judeus, vitória do Islã.”

Para o ocidente, este labirinto de políticos iemenitas comprova a complexidade em encontrar um aliado confiável para lutar contra a al Qaeda afiliada ao Iemên, a qual tomou crédito pelo ataque mortal ainda esse mês contra a redação da Charlie Hebdo em Paris. Enquanto o governo americano continuou a apoiar Hadi como um parceiro próximo na guerra ao terror, são os Houthis, também conhecidos como Ansar Allah, que têm batalhado contra a AQAP nas ruas de Sanaa.

AQAP lançou uma série de ataques com carros bomba e suicídios contra os Houthis começando no final de Setembro. Nos postos de verificação ao redor de Sanaa, os Houthis estão procurando por membros da AQAP tentando contrabandear bombas e materiais que as constituem para dentro da cidade. É frequentemente uma batalha perdida, uma vez que contrabandear explosivos pode ser mais simples do que fixar um cartaz dos Houthis - o qual tem o mesmo lema que os adesivos nas AK-47 - no painel de um carro para passar pelos postos.

Em um vídeo recente da AQAP, o qual o The Intercept traduziu do Árabe para o Inglês, Nasser bin Ali al Ansi, um oficial antigo da AQAP, disse que o grupo está fazendo um progresso estável contra os Houthis e assentou que a AQAP estava trabalhando em “expandir a área geográfica” de seus ataques contra os Houthis. O oficial da AQAP disse que o grupo depende do que tira dos inimigos, porque faltam fundos suficientes para efetivamente enfrentar os Houthis. Ele também pediu que “os muçulmanos apoiem os jihadistas” lutando contra os Houthis.

Mas os Houthis são contrários ao envolvimento americano no Iemên - mesmo para combater a al Qaeda - e isso ajuda a explicar porque a administração Obama não irá abraçar a nova estrutura de poder nem tão cedo. Outra razão é que eles são vistos como alinhados com o Irã.

Por anos, o governo iemenita tentou inflar a influência do Irã sobre os houthis na esperança de adquirir a permissão americana para usar os fundos e a assistência do contra-terrorismo para combater os houthis. De acordo com cabos diplomáticos divulgados pelo WikiLeaks, oficiais da administração do Bush Pai consistentemente repeliam tais pedidos do governo iemenita, dizendo que o governo americano via a batalha contra os houthis como uma questão nacional.

A administração Obama esquivou ao tomar uma posição sobre o apoio do Irã aos Houthis.

“Continuamos incomodados com a história do trabalho entre os Houthis e os iranianos,” a porta voz do Departamento do Estado Jen Psaki disse na quinta-feira. “Agora nós não avaliamos que há uma nova corporação naquele fronte.”

A Arábia Saudita também retratou os Houthis como um representante Iraniano, e o império provocou inúmeros ataques aéreos contra as fortalezas do movimento.

Uma fonte clara de apoio aos houthis vem da ex-presidente Ali Abdullah Saleh, que é do mesmo setor xiita. Saleh é suspeito de participar da tomada da capital pelos Houthis. Essa semana, várias redes de TV árabes levaram ao ar uma gravação de um telefonema entre Saleh e um líder Houthi antigo, com o antigo presidente aconselhando-o sobre as operações políticas e militares.

Durante seu momento no poder, Saleh frequentemente mudava suas alianças; ele travou 6 guerras contra os Houthis de 2004-2010, mas às vezes usava os Houthis para atacar os oponentes políticos. Dada esta história, muitos duvidam que a nova estrutura de poder, dominada pela aliança Saleh-Houthi, irá perdurar.

Sales e os Houthis estão “apaixonados”, disse Asham, um estudante da Universidade de Sanaa, que pediu que se sobrenome não fosse usado devido a situação política. “Mas seu casamento irá terminar em divórcio. Não podem morar juntos para sempre porque ambos querem a mesma coisa - poder.”

Enquanto o Departamento de Estado americano inicialmente resistiu em chamar os eventos dessa semana no Iemên de golpe, a troca de poder já tinha inclinado para os Houthis. O controle do grupo rebelde foi cimentado ainda esse mês, quando Hadi secretamente assinou decretos presidenciais cedendo os aparatos de segurança, os quais têm funcionado tradicionalmente como uma fonte de salários governamentais para as famílias e amigos dos líderes.

Depois de assinar um acordo compartilhado na ultima quarta-feira, Hadi tinha efetivamente cedido poder aos Houthis, que provocou um golpe no inicio da semana que culminou em um tiroteio entre a guarda opresidencial e a milícia Houthi. Era esperado que o acordo tornasse oficial o controle dos Houthis sobre a capital, e as demissões em massa de ontem somente reafirmam a tomada do grupo.

Um porta-voz da AQAP acolheu a caída do governo, dizendo ao The Intercept: “operamos melhor sob tais circunstâncias.”

“Eu acredito que ambos Houthis e Saleh estão escolhendo seus postos,” disse Fernando Carvajal, um especialista iemenita e consultor de organizações não governamentais no país. “Tomando a polícia agora, Houhtis e Saleh podem recrutar milícias.”

Pouco depois de tomar os postos de segurança, os chefes da polícia Houthi usaram seus novos poderes para prender um assessor próximo de Hadi. O governo chamou a prisão de sequestro.

O governo de Hadi, enquanto isso, já estava em estado de retirada; Houthis essa semana asseguraram o controle da mídia estatal do Iemên.

Muitos veêm o golpe dessa semana como o final culminante de uma série de eventos que começaram a desabrochar em Janeiro de 2014, quando Hadi iniciou um cessar-fogo na batalha de meses entre Houthis e sunitas palafitas fora da cidade de Sa’dah, a capital provincial do movimento Houthi. A mediação de adi resultou no despejo de quase 15,000 alunos salafistas da provincia de Sa’dah - uma vitória para os Houthis.

Os Houthis iniciaram sua tomada em Sanaa em Setembro e começaram preenchendo novas posições vagas nas sedes policiais. Isso foi seguido pelo golpe dessa semana, e o que parece ser uma tomada total de poder.

Enquanto Sanaa experienciou uma série de explosões e tiroteios na semana passada, o comércio fora das áreas de batalha continuou aberto, e os iemenitas receberam essa ultima jogada de poder com tranquilidade. Hisham Al-Omeisy, um consultor de informação e comunicação em Sanaa, diz que a maioria dos iemenitas simplesmente perderam a fé na retórica do governo. “Quando falamos do status quo atual no Iemên nós falamos que parece um cego tentando aplicar rímel à uma loucura instável.”
 
TraduçãoIsabela Palhares

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