terça-feira, 29 de abril de 2014

Relatório e guia sobre tráfico de pessoas são lançados em São Paulo


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Relatório e guia sobre tráfico de pessoas são lançados em São Paulo

Baixe a versão digital do relatório “Tráfico de pessoas na imprensa brasileira” e do “Guia para jornalistas com referências e informações”
Por Daniel Santini | Categoria(s): Notícias
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Juliana Armed, Carlos Bezerra Jr., Fernanda dos Anjos, Leonardo Sakamoto, Larissa Beltrami e Gilberto Duarte na mesa de abertura do evento. Foto: Stefano Wrobleski
Repórter Brasil apresentou na manhã desta sexta-feira, dia 11, duas publicações sobre tráfico de pessoas,  desenvolvidas com apoio do Ministério da Justiça e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Trata-se de um relatório sobre a cobertura da imprensa e um guia para jornalistas com referências e informações sobre o enfrentamento ao problema. O lançamento foi realizado nesta manhã durante evento realizado no Auditório da Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, que fica no Pateo do Collegio, no Centro de São Paulo, durante evento que reuniu alguns dos principais especialistas do Brasil sobre o tema.
Publicações da Repórter Brasil sobre Tráfico de Pessoas
O relatório “Tráfico de pessoas na imprensa brasileira” (versão digital em PDF) teve como base a análise de 655 textospublicados entre 1º de janeiro de 2006, ano de lançamento da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, e 1º de julho de 2013, ano do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. O estudo indica que o tema ainda não recebe atenção suficiente por parte da mídia. Em 57% dos textos analisados, o tráfico de pessoas é apenas mencionado, não raro de forma equivocada, misturando conceitos e interpretações. Entre os 43% restantes, a maioria (54%) não trata de causas ou contextualiza a questão e boa parte (44%) é focada apenas no tráfico para fins de exploração sexual.  A cobertura se baseia na agenda governamental ou em ações policiais e em muitos casos limita-se a aspectos criminais, sem os aprofundamentos necessários para tratar de um fenômeno complexo, multifacetado e dinâmico, com diferentes modalidades, causas e consequências.
“Guia para jornalistas com referências e informações sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas” (versão digital em PDF), baseado em entrevistas com mais de 20 especialistas, entre autoridades, acadêmicos e representantes da sociedade civil, reúne recomendações para a cobertura e acompanhamento, incluindo sugestões de fontes, datas importantes e o marco legal, com indicações da legislação e de tratados internacionais ratificados pelo Brasil. A publicação elucida que as definições previstas no Protocolo de Palermo são as mais amplas sobre o problema e destaca que o o Brasil é um país de origem, trânsito e destino de tráfico de pessoas, o que torna a cobertura complexa, delicada e relevante. Aos jornalistas preocupados em acompanhar a questão, o guia recomenda focar direitos humanos, contextualizar acompanhar políticas de prevenção, diversificar fontes, a ter atenção para identificar novas modalidades de tráfico.
 Por se tratar de um fenômeno clandestino e de difícil mensuração, a publicação sugere cuidado com números e estatísticas, e com os mitos e estereótipos que ainda são comuns e mais atrapalham do que ajudam no entendimento sobre o tema.
Por se tratar de um fenômeno clandestino e de difícil mensuração, a publicação sugere cuidado com números e estatísticas, e com os mitos e estereótipos que ainda são comuns e mais atrapalham do que ajudam no entendimento sobre o tema. Mais do que reforçar a ideia de que o tráfico hoje se limita a redes criminosas internacionais e atinge apenas mulheres, a publicação propõe uma abordagem integral, e destaca que não existe um perfil único de vítimas; em tese, qualquer pessoa pode ser traficada. Ao aprofundar a questão é preciso sensibilidade com vítimas, que não devem ser tratadas como coitadas, inocentes, ignorantes, mas como sujeitos de direitos que merecem respeito. Também vale cuidado redobrado em casos que envolvem crianças e adolescentes, e estar atento a termos inadequados (o guia traz diversos exemplos). Outras recomendações são ter a perspectiva de gênero e lembrar que diferenças sexuais são produtoras de desigualdades sociais; entender migração como um direito humano; e considerar que a prostituição não é crime no Brasil.  Há análises específicas sobre cada um desses pontos na reportagem.
Os trabalhos de pesquisa foram encabeçados pelas jornalistas Raiana Ribeiro e Fernanda Sucupira, com edição de Leonardo Sakamoto, Daniel Santini e Igor Ojeda. A diagramação é de Gustavo Monteiro. Participaram do evento de lançamento Carlos Bezerra Jr, deputado estadual, criador da Lei Paulista de Combate ao Trabalho Escravo; Fernanda dos Anjos, diretora de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça; José Guerra, secretário executivo da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo; Juliana Armede, da Comissão Estadual pela Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo (Coetrae-SP) e do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico Humano do Estado de São Paulo; Larissa Beltramim, secretária-executiva da Secretaria Municipal de Direitos Humanos; Leonardo Sakamoto, coordenador da Repórter Brasil; Luiz Machado, coordenador do projeto de combate ao trabalho escravo da Organização Internacional do Trabalho- OIT; Maurício Hashizume, jornalista, membro da Repórter Brasil; Gilberto Duarte, oficial de campanhas da UNODC; Renato Bignami, membro do programa de erradicação do trabalho escravo da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo;  e Roque Pattussi, coordenador do Centro de Apoio ao Migrante.
Clique nas imagens para baixar a versão digital em PDF das publicações apresentadas: 
pesquisatráficoguiatráfico
Acesse também:
Versão digital de outras publicações da Repórter Brasil
Reportagens e artigos sobre tráfico de pessoas

PDF - tráfico de pessoas
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Tráfico de pessoas

15/04/2014 - 12:01

Repórter Brasil realiza oficina sobre tráfico de pessoas para jornalistas

Repórter Brasil reúne jornalistas de 25 Estados para discutir cobertura sobre tráfico de pessoas no Brasil
11/04/2014 - 12:08

Relatório e guia sobre tráfico de pessoas são lançados em São Paulo

Baixe a versão digital do relatório “Tráfico de pessoas na imprensa brasileira” e do “Guia para jornalistas com referências e informações”
04/04/2014 - 13:19

Repórter Brasil lança publicações sobre tráfico de pessoas

Lançamento da pesquisa “Tráfico de pessoas na imprensa brasileira” e do “Guia para jornalistas com referências e informações sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas” contará com a presença de 11 especialistas
11/03/2014 - 18:16

Tráfico de pessoas é tema de evento no MPF

Durante os debates, que acontecem na próxima quinta-feira, 13, será lançado livro que reúne 23 artigos de especialistas sobre o assunto. Inscrições ainda estão abertas
10/03/2014 - 12:39

Migração e trabalho são temas de seminário internacional

Ministério Público do Trabalho realiza nos dias 26 e 27 de março o seminário internacional Migrações e Trabalho, com especialistas em direitos trabalhistas, trabalho escravo e tráfico de pessoas
05/03/2014 - 17:46

Campanha da Fraternidade: A nossa responsabilidade pelo tráfico de pessoas

A invisibilidade das práticas do tráfico e a cegueira de muitos são algumas das dificuldades para avançar no combate a esse crime
27/02/2014 - 15:05

‘Se não conhecíamos nada da cidade e da língua, fugiríamos para onde?’, diz imigrante vítima de tráfico de pessoas

Repórter Brasil localiza na Bolívia um dos trabalhadores que dono de confecção tentou “vender” no Brás, em São Paulo. “Minha vida aqui é melhor que no Brasil”, afirmou
17/02/2014 - 20:28

Fiscalização localiza dono de confecção que tentou vender imigrantes como escravos

Oficina em que bolivianos trabalharam produzia para a Atmosfera, empresa que atende indústrias, hospitais e hotéis, e é considerada uma das principais do setor no país
31/01/2014 - 17:19

Tráfico de pessoas é tema de coletânea

Publicação é coletânea de 23 artigos de especialistas e tem como objetivo contribuir para o respeito aos direitos humanos
21/01/2014 - 18:14

Especialistas apontam que paraguaios barrados têm direito de ficar no Brasil

Ônibus que levavam pelo menos 180 paraguaios foram parados pela Polícia Rodoviária Federal e encaminhados de volta à fronteira
18/10/2013 - 18:38

Com método de Paulo Freire, seminário capacita formadores contra tráfico de pessoas

Entre os dias 16 e 18 de outubro, os coordenadores de 18 núcleos e postos avançados da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas participaram em Brasília de atividades lúdicas, que servirão de modelo para formar grupos que atuem na prevenção desse crime em seus Estados.
18/10/2013 - 17:09

Relatório sobre tráfico de pessoas em fronteiras é apresentado em Brasília

Estudo tem como objetivo reunir dados sobre o problema e ajudar na construção de conhecimento “para apoiar as políticas e ações de prevenção, assistência às pessoas traficadas e a repressão a este crime”
10/10/2013 - 16:29

Imigrantes devem ter direitos garantidos, orienta manual do governo federal

Documento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República enfatiza que os órgãos envolvidos devem tratar igualmente vítimas brasileiras e estrangeiras
03/10/2013 - 18:21

Livro sobre tráfico de pessoas organizado por pesquisadora da USP é lançado em São Paulo

O livro “Tráfico de pessoas – Quanto vale o ser humano na balança comercial do lucro?” de Maria Quinteiro e Priscila Siqueira será apresentado nesta sexta-feira, 4, na livraria Martins Fontes, em São Paulo (SP).
30/09/2013 - 14:59

Tráfico de pessoas é debatido por Ministérios Públicos do Mercosul

Em reunião, representantes de diferentes Ministérios Públicos, de organizações internacionais e de grupos da sociedade civil dos países do Mercosul estão discutindo temas do tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo e direitos humanos entre 3 e 4 de outubro 2013.
19/09/2013 - 18:16

Governo do Pará capacita servidores para atendimento a vítimas do tráfico de pessoas

Com o objetivo de humanizar o atendimento a vítimas do tráfico de pessoas no Pará, a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), por meio da Coordenação de Proteção dos Direitos dos Trabalhadores Rurais, Combate ao Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas (CTETP), promoveu, na quarta (18) e na quinta-feira (19), uma oficina […]
23/08/2013 - 16:03

Presa no Rio Grande do Sul aliciadora de jovens para exploração sexual no Pará

Operação conjunta das Polícias Civil dos Estados do Pará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul resultou, nesta quinta-feira, 22, no cumprimento do mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça paraense contra Claci Fátima Morais da Silva, indiciada em inquérito policial sob acusação de recrutar meninas da região Sul do Brasil para exploração sexual nas […]
16/07/2013 - 18:01

Em ação contra o tráfico de pessoas, organizações oferecem ‘presentes’ a transeuntes

Instalações simulam o processo de aliciamento de seres humanos em mais de cinco localidades ao longo do Rio de Janeiro (RJ) e do município de Duque de Caxias (RJ) desde a última segunda-feira (dia 15)
22/05/2013 - 16:23

Caderno reúne ações de combate e prevenção ao tráfico de pessoas e trabalho escravo

Publicação ‘Experiências Comunitárias de Combate à Escravidão’ divulga 15 iniciativas em defesa dos direitos fundamentais apoiadas pelo programa ‘Escravo, nem pensar!’ da Repórter Brasil
17/05/2013 - 15:41

PF faz operação contra tráfico internacional de pessoas no Distrito Federal

Brasília – A Polícia Federal (PF) deflagrou hoje (15) operação para desarticular uma quadrilha que trazia para o Brasil, ilegalmente, imigrantes que eram submetidos a trabalho em condições análogas à escravidão. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal. Ninguém foi preso, mas a PF informou ter identificado os integrantes do esquema, […]

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Brasil tem um milhão de abortos induzidos por ano

carta maior
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Brasil-tem-um-milhao-de-abortos-induzidos-por-ano/5/30755


Brasil tem um milhão de abortos induzidos por ano

O abortamento clandestino constitui a quinta causa da morte materna no país e uma em cada cinco mulheres já adotou essa prática.


Dermi Avezedo
Eric Drooker
O Brasil registra anualmente um milhão de abortos induzidos e uma em cada cinco mulheres já adotou essa prática. O abortamento clandestino constitui a quinta causa da morte materna no país.
 
Esses dados, resultantes de pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde e por organizações de mulheres serão analisados em Recife/PE, 2 a 4 de maio próximo, no primeiro Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário, que é uma frente de entidades feministas, constituída há três anos para lutar pelos direitos da mulher e por uma sociedade sem injustiças e sem explorações.
 
Tema Tabu
 
O tema do aborto como tabu ou como direito da mulher, é um dos temas mais polêmicos sempre presentes não só em eventos feministas, mas também em debates religiosos. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), órgão máximo da igreja Católica Apostólica Romana do país, é totalmente contra qualquer mudança legal que abra a possibilidade da descriminalização do aborto.
 
Em 1982, em Petrópolis RJ, as entidades da sociedade civil reunidas para a fundação do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) foram advertidas pela CNBB que não deveriam colocar em pauta o tema do aborto. A ponderação foi aceita pela direção do Movimento.
 
Abortos Clandestinos
 
Em razão da ilegalidade do aborto, é crescente o número de mortes provocadas no Brasil por causa de abortos clandestinos em condições insalubres. Em 2001, no Brasil, foram registradas 9,4 mortes de mulheres por abortamento para cada 100 mil nascidos vivos. O sistema Único de Saúde (SUS) internou no ano passado 243 mil mulheres para fazerem curetagem pós-abortamento.
 
Descriminalização
 
As entidades ligadas ao Movimento Olga Benário são favoráveis à descriminalização do aborto e alegam que essa medida constitui e representa não um atentado à vida (como argumenta a Igreja Católica), mas a redução de mortes clandestinas de mulheres no país.

‘Jango’, de Silvio Tendler

oi
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/videos/videosoi/lsquo_jango_rsquo_de_silvio_tendler


‘Jango’, de Silvio Tendler

14/04/2014 | 0 comentários
 

Documentário (1984) dirigido por Silvio Tendler sobre João Goulart (1919-1976), o último presidente antes do golpe de 1964. Narração de José Wilker, texto de Maurício Dias, trilha sonora de Milton Nascimento e Wagner Tiso.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Índios guarani ocupam Pátio do Colégio por demarcação de terras em São Paulo

carta maior
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Movimentos-Sociais/indios-guarani-ocupam-Patio-do-Colegio-por-demarcacao-de-terras-em-Sao-Paulo/2/30747


Índios guarani ocupam Pátio do Colégio por demarcação de terras em São Paulo

Índios reivindicam do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo a assinatura de Portarias Declaratórias que dão sequência à titulação de seus territórios.


Igor Ojeda e Tatiana Merlino, da Repórter Brasil
Caio Castor
São Paulo (SP) - Indígenas guarani de aldeias localizadas na Grande São Paulo ocuparam nesta quarta-feira, 16, o interior do Pátio do Colégio, no centro de São Paulo (SP). Eles reivindicam do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo a demarcação de suas terras. Os guarani, que afirmaram que passariam a noite no local, ainda permaneciam por lá até a publicação desta matéria. A Repórter Brasil acompanhou a ação (assista ao vídeo abaixo).
 

 
Cerca de 50 índios entraram na área interna do Museu Anchieta, localizado no Pátio do Colégio, por volta das 15h30. No pátio coberto da parte de trás do lugar, formaram um círculo e deram as mãos. Revezaram-se em falas em guarani e, aproximadamente vinte minutos depois, deram início a um ritual de música, dança e canto, com o auxílio de instrumentos musicais e sob os olhares de funcionários e visitantes não índios do local. Uma das músicas dizia: “aqueles que são muitos acabaram com tudo que nossos antepassados deixaram para nós”, em referência às ações dos brancos.
 
Aproximadamente meia hora depois, distribuíram panfletos explicando os motivos da ocupação. De acordo com o comunicado divulgado por eles à imprensa, “interromper temporariamente as atividades do Museu, que celebra o local de fundação da cidade e início da colonização, foi a forma encontrada pelos habitantes originários de São Paulo para cobrar do Ministério da Justiça a emissão das Portarias Declaratórias que garantem a demarcação das Terras Indígenas Tenondé Porã e Jaraguá, já reconhecidas pela Funai [Fundação Nacional do Índio]“. Por volta das 16h30, o diretor do Museu Anchieta, padre Carlos Contieri, ao ser avisado sobre a pernoite dos indígenas, chamou a Polícia Militar, que enviou três homens. Após alguns minutos de negociação, autorizou a permanência deles no local.
 
ConcentraçãoOs guarani se concentraram na noite do dia 15 na Aldeia Tenondé Porã, na Zona Sul de São Paulo, onde realizaram um ritual de reza, também acompanhado pela Repórter Brasil. De lá, partiram em micro-ônibus no início da tarde desta quarta-feira em direção à região central da cidade. Da praça da Sé, saíram por volta das 15h20 rumo ao Pátio do Colégio. Caminharam devagar, observando os monumentos e edifícios históricos, até chegar ao local da ocupação.
Índios tocam, dançam e cantam no Pátio do Colégio. Foto: Caio CastorÍndios tocam, dançam e cantam no Pátio do Colégio. Foto: Caio Castor


 
Segundo os organizadores da campanha, basta apenas a assinatura das Portarias Declaratórias pelo ministro José Eduardo Cardozo para que se inicie o processo de indenização dos não índios que habitam os territórios reivindicados pelos indígenas. Em seguida, as terras estariam habilitadas para serem demarcadas e, num momento posterior, tituladas.
 
Em resposta à solicitação da reportagem, a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça afirmou que o processo relativo à Terra Indígena Tenondé Porã “encontra-se atualmente em resposta técnica a diligência requerida pelo Ministério da Justiça. Prazo de atendimento da diligência pela Funai: fim de abril. Posteriormente o processo será remetido ao Ministério da Justiça para as devidas análises nos termos do art. 2º, §10 do Decreto n.º 1775/96.”
 
Em relação à Terra Indígena Jaraguá, a assessoria do MJ disse que “atualmente encontra-se na etapa do contraditório administrativo, sendo respondida tecnicamente as contestações apresentadas em face do procedimento de identificação da referida TI, nos termos do Decreto n.º 1775/96″. Ou seja, o processo seria enviado ao Ministério em seguida.
 
A Terra Indígena Jaraguá, situada na Zona Norte da capital e que segundo a organização da campanha é a menor do Brasil, concentra aproximadamente 700 guarani em 1,7 hectare. Os indígenas protestam também contra uma decisão da Justiça que determina o despejo dos habitantes da aldeia Tekoa Pyau, que fica fora da terra indígena e que seria abarcada pela demarcação do território reconhecido pela Funai, de 532 hectares.
 
Informação no site da Funai indicando o reconhecimento da Terra Indígena Jaraguá. Imagem: FunaiInformação no site da Funai indicando o reconhecimento da Terra Indígena Jaraguá. Imagem: Reprodução/Funai

 

A Terra Indígena Tenondé Porã, no extremo sul de São Paulo, abriga cerca de 1.400 índios, em quatro aldeias, duas em Parelheiros, uma em Marsilac e outra no município de São Bernardo do Campo. Hoje, a Funai reconhece que esse território deveria abranger 16 mil hectares (Para pesquisar sobre as terras indígenas existentes no Brasil, clique aqui). De acordo com os guarani, a falta de espaço é a causa principal dos problemas vividos por eles na Grande São Paulo, como alta incidência de doenças, atropelamentos de crianças, e falta de saneamento básico, alimentação e água potável.
 
Informação no site da Funai indicando o reconhecimento da Terra Indígena Tenondé Porã. Imagem: FunaiInformação no site da Funai indicando o reconhecimento da Terra Indígena Tenondé Porã. Imagem: Reprodução/Funai


A intenção é manter a ocupação até às 16 horas da quinta-feira, 17, para quando está programado o lançamento da campanha “Resistência Guarani SP“, que exigirá do governo federal a demarcação das terras. Para divulgar suas reivindicações, os indígenas publicaram um manifesto em duas versões: uma em texto e outra em vídeo, em sua própria língua (assista ao vídeo abaixo). Além disso, já circula na internet uma petição a ser enviada ao ministro da Justiça

 

 
No manifesto (leia-o na íntegra aqui), os guarani deixam claro que escolheram o Pátio do Colégio por seu caráter simbólico: “é o local onde vocês brancos se fixaram pela primeira vez, e começaram a tomar posse das terras que eram do nosso povo”. Foi nesse lugar que a cidade de São Paulo foi fundada, em 1554, e que se deu início à catequização dos povos indígenas da região. “Nossas terras não são mais aqui no Centro, não são no Pátio do Colégio, pois esse lugar já foi tomado por vocês há muito tempo, e não vamos nunca pedir de volta. Elas são na margem da metrópole, onde vocês ainda não destruíram, onde sobra ainda um pouco das matas onde sempre vivemos”, diz o texto.
 
No dia 24, a partir das 17 horas, os guarani pretendem realizar um ato com a mesma pauta na avenida Paulista.


Créditos da foto: Caio Castor

Direitos das mulheres zapatistas

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80245


Direitos das mulheres zapatistas

Noticias Aliadas
Adital

Por Orsetta Bellani
Lei Revolucionária das Mulheres prevê acesso a cargos políticos e militares, a terem um salário digno, educação, saúde, a não serem maltratadas e escolherem seus parceiros
A cada manhã, Fabiana acorda às 4h30, como todas as mulheres de sua comunidade. Mói o milho fervido na noite anterior até formar uma massa suave que mostra algumas bolinhas, que amassadas e cozidas na panela de barro se transformam em tortinhas. Fabiana, da etnia maya tzotzil, tem 23 anos, um marido e dois filhos e é a base de apoio do Exercito Zapatista da Libertação Nacional (EZLN). Trabalha em sua casa quase todo o dia, diariamente carrega o menino mais novo. Contudo, o marido a ajuda em algumas tarefas tradicionalmente consideradas "de mulheres”, como debulhar o milho ou depenar as aves, e, às vezes, se encarrega de cuidar dos meninos enquanto ela cozinha.
"Nasci no povo de San Juana Chamula, nos altos de Chiapas. Quando tinha 10 anos, minha família se tornou zapatista e a Junta do Bom Governo nos entregou uma parcela de terra nessa comunidade”, relata Fabiana a agência Notícias Aliadas. ”Aqui conheci meu marido. Estamos muito felizes com nossos dois filhos e decidimos que não queremos mais”.
Triplamente oprimidas
A possibilidade de planejar a maternidade é um dos direitos estabelecidos pela Lei Revolucionária das Mulheres, que as zapatistas redigiram em 1994. A Lei está em vigor nos territórios sob a influência de EZLN e prevê também o direito das mulheres a terem cargos políticos e militares, a poderem desfrutar de um salário digno, de educação, saúde, a não serem maltratadas e a poderem escolher seu parceiro.
"Historicamente, a condição da população indígena em Chiapas tem sido de exclusão, e as mulheres vivem uma tripla opressão: por serem mulheres, pobres e indígenas”, explica a Notícias Aliadas Guadalupe Cárdenas, do Coletivo Feminista Mercedes Oliveira (Cofemo), de San Cristóbal de Las Casas, Chiapas. "Sua participação política sempre foi invisibilizada, mas com a Lei Revolucionária das Mulheres isso mudou: começaram a ir às manifestações, a tomar microfones e falar, a ter cargos políticos. Houve uma grande troca de sensibilidade em Chiapas, fora do movimento zapatista, e os homens começaram a valorizá-las pelo menos em seu discurso; já não é politicamente correto excluir a participação das mulheres”.
Na mesma comunidade de Fabiana vive Teresa, que tem 15 anos e disse estar muito orgulhosa de pertencer a EZLN. À tarde, Teresa e sua prima se sentam em frente à loja comunitária e olham os garotos passarem. Contam que a namorada de um deles o deixou, e que agora ele tem outra namorada que não é zapatista.
Explicam que ela disse que queria ser zapatista, e que no caso contrário, ele teria que sair da organização. Acrescentaram que nas comunidades em resistência elas elegem os parceiros e logo conhecem as respectivas famílias, enquanto que o costume anterior ao surgimento da EZLN era que o rapaz escolhia sua esposa, e logo estabelecia com a família dela um pagamento pelo dote. Ao perguntar a Teresa se quer casar e ter filhos, ela ri e responde que acredita que sim, mas agora é muito jovem.
A uns quilômetros da Comunidade de Teresa, no povoado maya tzotzil – não zapatista – de San Juan Chambula, as mulheres se casam ainda meninas. Em 12 de março passado, uma adolescente de 14 anos deixou seu marido depois de três anos de maus tratos. Um juiz ordenou sua captura por abandonar o lar e a condenou a pagar uma multa de 24.400 pesos mexicanos (quase US$ 2.100). A menina, que havia sido comprada por 15 milhões de pesos (equivalente a quase $1,15 milhão), denunciou haver passado 29 horas em cárcere privado sem comer, sem cobertor, entre o lixo e fezes humanas.
A Lei zapatista já não permite decisões desse tipo, tão abertamente lesivas a dignidade humana, embora não se possa pensar que possa ter mudado, por decreto, um conjunto de práticas tão radicadas na cultura e nas consciências.
Resistir dentro da resistência
As mesmas zapatistas, nos cadernos sobre a participação das mulheres no governo autônomo, que publicaram em agosto de 2013 para o curso "A liberdade segundo as zapatistas’, que se desenvolveu no marco da chamada Escuelita Zapatista (um curso de uma semana em que cada participante pôde conviver uma semana em uma comunidade em resistência, como hóspede de uma família), notam que, nos últimos 20 anos, houve um grande avanço em suas comunidades, embora, todavia não se possa falar de paridade entre os gêneros. Segundo escrevem, a dificuldade em aceitar que as zapatistas possam ter cargos políticos é tanto de homens como de mulheres, por uma formação que não as concebe como sujeitas de direitos.
"Uma vez, aconteceu que várias mulheres milicianas ficaram grávidas e a ordem do comando zapatista foi que abortassem, com o apoio de algumas organizações não governamentais. Se as companheiras quisessem continuar a gravidez teriam que deixar de ser milicianas e viver sua vida como amas de casa, enquanto que os homens que as engravidaram não tiveram nenhuma consequência”, relata Cárdenas, que trabalhou na zona zapatista até o ano de 2000. "De todos os modos, eu creio que as zapatistas estão aprendendo a resistir dentro da resistência, são clandestinas entre os clandestinos. Aprenderam o caminho da resistência ao neoliberalismo, assim que puderam empreender o caminho da resistência ao patriarcado. De fato, já estão fazendo, não estão de acordo com muitas coisas de sua organização e sua cultura e estão mudando. É lento, mas estão fazendo as mudanças que necessitam”.