quinta-feira, 22 de maio de 2014

Comunicação como direito humano!

KEKA WERNECK

Comunicação como direito humano!

Sabe de nada, inocente!

Jornalistas de Cuiabá que cobriram nessa terça-feira, 20 de maio de 2014, o desenrolar da quinta etapa da Operação Ararath não receberam quaisquer informações oficiais sobre o esquema de crime financeiro e lavagem de dinheiro que levou à prisão um dos ícones da política mato-grossense, o deputado estadual José Riva (PSD).
Riva, para quem não sabe, é um dos parlamentares mais processados do Brasil. Está afastado judicialmente da presidência da Assembleia Legislativa e, diga-se de passagem, não tem como negar, é um dos políticos mais bem votados nas últimas eleições estaduais.
Na mesma operação, após cumprimento de mandado de busca e apreensão, a Polícia Federal levou preso nada menos que o governador do Estado de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB).
Outro preso na quinta etapa da Ararath, Éder Moraes, também pode ser considerado um peso-pesado das articulações políticas locais. Já foi secretário de Estado de Fazenda e da extinta AGECOPA, primeira órgão criado em Cuiabá para conduzir as obras e as questões relacionadas à Copa do Mundo da Fifa 2014. Cuiabá é uma das cidades-sede.
Também passaram pela PF durante essa terça-feira insana a esposa de Riva, Janete Riva, ex-secretária de Estado de Cultura. Quer ver quem mais? Empresários da área das hidrelétricas e supermercados. A PF foi aos gabinetes do prefeito Mauro Mendes (PSB) e do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Sérgio Ricardo, que se fez como apresentador de TV e mais tarde deputado estadual, chegando ao cargo de grande envergadura que ocupa, tendo como principal papel apreciar gastos públicos. Até à sede do Ministério Público Estadual a PF foi averiguar.
Um dos muitos advogados que passaram para porta da PF, onde se concentrava digamos toda a imprensa local e nacional, afirmou que os autos são ricos em detalhes capazes de revelar a prática delituosa que arrasta tudo isso de gente influente, de forma direta ou indireta.
Tudo isso não é pouca coisa. Obviamente que um caso quando envolve autoridades desse porte repercute muito.
Dito isso e em meio à tarefa de relatar à sociedade o que se passa, a imprensa foi surpreendida com a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir a PF que repassasse informações sobre a operação. Sigilo! A decisão do ministro Dias Toffoli cala a PF, que poderia organizar os dados mais relevantes e divulga-los em uma coletiva, por exemplo, ou em nota. Mas isso não foi feito.
Esse silêncio, poderíamos pensar, atende a quem? Preserva o que? Quem estaria envolvido ainda em tudo isso, como já dito, de forma direta ou indireta? Quem teria foro privilegiado?  Quem na verdade determinou esse silêncio?
Daí que as informações foram pingando daqui e dali e juntadas, por cada um dos colegas da imprensa, acabaram, sim, informando, com limites, à sociedade sobre a engrenagem da corrupção, que assola historicamente o Brasil, mas não só o Brasil, bom que se diga. Afinal, não vamos assumir para sempre essa pecha de país dos corruptos. Corruptos são alguns. Brasileiro é povo maneiro e trabalha para burro.
O STF poderia determinar que os autos fossem repassados em canais abertos de televisão, mas preferiu, em uma atitude inédita, aprofundar um problema que a nossa democracia ainda não resolveu e tem lastro na nossa história recente de ditadura: a censura.
O problema da censura é que XXXXXXX XXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXX XXXXXXXX.
As partes do quebra-cabeças da Ararath vetadas poderiam dar melhor dimensão à sociedade sobre que tipo de quadrilha atua, enquanto a gente dorme.
Bom que se diga que as investigações continuam e as partes envolvidas ainda devem se defender na justiça, já que a maioria não quis se defender junto à imprensa. Não deram entrevistas, saíram pelos fundos.
Diante do veto do STF e da inconsistência dos fatos obtidos pelas bordas, a imprensa e a sociedade poderiam perfeitamente vestir uma faixa com o jargão do momento no facebook: sabe de nada, inocente!

-- 
Keka Werneck

Nenhum comentário:

Postar um comentário