segunda-feira, 24 de março de 2014

PS sofre dura derrota na França. Extrema-direita tem resultado histórico

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PS sofre dura derrota na França. Extrema-direita tem resultado histórico

O resultado do primeiro turno das eleições municipais, realizado neste domingo, foi uma catástrofe para os socialistas franceses, atualmente no poder.


Eduardo Febbro
Front National/Divulgação

Paris - Marcada por uma taxa de abstenção sem precedentes, o primeiro turno das eleições municipais francesas puniu o Partido Socialista, atualmente no poder, levou a extrema-direita da Frente Nacional a resultados históricos ao mesmo tempo em que, apesar dos escândalos que mancharam sua imagem nas últimas semanas, a direita agrupada na UMP do ex-presidente Nicolas Sarkozy ficou muito perto de alcançar seus objetivos: conquistar o maior número possível de cidades de mais de 10 mil habitantes.

O abstencionismo e a extrema-direita foram os principais vencedores desta eleição teste para o conjunto da classe política. Com 38,5% de abstenção, esta consulta municipal de 2014 superou a abstenção verificada em 2008, que foi de 33,5%, e a de 2001, 32,6%. O grande perdedor foi o Partido Socialista. O movimento da rosa buscou por todos os meios evitar a nacionalização da campanha e circunscrevê-la a seu âmbito mais local para evitar assim pagar o tributo da baixíssima popularidade do presidente François Hollande. A estratégia fracassou rotundamente: o PS se encontra em uma posição muito ruim em várias cidades importantes.

“As condições de uma grande vitória estão reunidas para o segundo turno”, declarou o presidente da UMP, Jean-François Copé. De fato, em muitas circunscrições os eleitores deram a vitória na bandeja para a direita. A líder do ultradireitista Frente Nacional, Marine Le Pen, disse que os resultados conhecidos neste domingo representavam “o fim da bipolarização da vida política francesa”. A Frente Nacional chegou em primeiro lugar em cidades importantes como Fréjus, Avignon, Beziers e Perpignan. Além disso, pela primeira vez em sua história, a extrema-direita ganhou uma cidade já no primeiro turno, Hénin-Beaumon. Em muitos outros lugares seus candidatos estão bem posicionados ou se encontram em condições de provocar duelos triangulares direita-esquerda-extrema direita no segundo turno que ocorrerá dia 6 de abril.

Os socialistas não conseguiram superar a decepção dos seus eleitores. A alta porcentagem de abstenção traduz uma escassa mobilização dos hoje desencantados eleitores da esquerda que, em 2012, contribuíram para a vitória do socialista François Hollande à presidência da República. “Há uma forma de decepção que ficou expressa no primeiro turno”, admitiu a ministra ecologista da Habitação, Cécile Duflot. Uma cidade após outra, o PS viu uma série de derrotas que confirmam nas urnas o profundo mal estar que suscita o governo socialista.
 
Até Niort, uma localidade que o partido hoje na presidência administrava desde 1957, passou para as mãos da direita. Em Marselha, onde o socialismo esperava tirar os conservadores deste importante porto do Mediterrâneo, a configuração é semelhante. O candidato do PS aparece em terceiro lugar, atrás do representante da UMP e do candidato da ultradireita.

O único argumento que restou aos socialistas foi chamar a união para o segundo turno e agitar o espantalho da extrema-direita. Seu primeiro secretário, Harlem Désir, disse: “faremos tudo o que for necessário para que ao final destas eleições municipais nenhuma cidade seja dirigida pela Frente Nacional”. O objetivo chegou atrasado. O partido de Marine Le Pen já ganhou cidades no primeiro turno e está muito bem colocado em várias outras para administrá-las no futuro. Seria preciso ser muito ingênuo para acreditar que os socialistas sairiam ilesos da má imagem que arrasta seu presidente e o Executivo.

Após 22 meses no poder, François Hollande se converteu no presidente mais impopular da V República. É paradoxal constatar que os franceses depositaram em parte sua confiança em um partido de ideologia rançosa, a Frente Nacional, e também em uma direita carcomida pelos escândalos, debilitada pela luta de clãs e sua alucinógena capacidade para representar unicamente apetites pessoais e derivas ideológicas graves.
 
Marine Le Pen confirmou nas urnas a sua estratégia: “desdiabolizou” um pouco mais a extrema-direita e demonstrou que, quando a inércia, o engano e a indecência dos partidos de governo chegam a um grau crítico, a extrema-direita está com sua rede para colecionar recordes. O avanço da Frente Nacional é mais que histórico: Marine Le Pen ganhou a primeira aposta que consistiu em apresentar o maior número possível de listas (597) e está por ganhar a segunda: manter-se em posição de força em um amplo número de cidades no segundo turno.

A eleição foi uma catástrofe para os socialistas. Agora, o PS aponta seus refletores para a primeira semana de abril para tentar superar o desalento dos eleitores de centro-esquerda que se abstiveram de votar, para limitar os prejuízos do voto de protesto. A meta consiste em conservar o bastião de Paris, o que é perfeitamente possível, e manter sob sua administração outras cidades chave como Nantes, Lille, Estrasburgo e Toulouse. Nada está garantido. Tolouse e Estrasburgo podem passar para a direita nas próximas semanas. A extrema-direita é hoje o centro do jogo político. A perspectiva mais que favorável de seus candidatos obriga os socialdemocratas e os conservadores e mover suas peças em relação a ela.
 
Nas últimas eleições, seja presidencial, municipal, legislativa ou europeia, a extrema-direita consolida seus avanços enquanto os socialistas gritam “é o lobo!” e a direita trata de imitá-la o máximo possível para atrair seus votos. A ascensão é inelutável e simetricamente proporcional ao ocaso das ideias dos partidos e, sobretudo, da fidelidade às mesmas.
 
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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