quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Bachelet S.A. ganha o primeiro turno para administrar capitalismo no Chile

carta maior
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19/11/2013 - Copyleft

Bachelet S.A. ganha o primeiro turno para administrar capitalismo no Chile

Somente a metade dos habilitados votou; haverá segundo turno no próximo 15 de dezembro e os estudantes do ensino médio tomaram o comando de Bachelet.


Andrés Figueroa Cornejo
Wikimedia Commons
As eleições presidenciais e legislativas do dia 17 de novembro no Chile, previsíveis e sem mistério, foram interrompidas somente pelos jovens agrupados na Asamblea Coordinadora de Estudiantes Secundarios (Aces), que tomaram o comando de Michelle Bachelet, em Santiago, e afirmaram que "o movimento estudantil em seu conjunto tem clareza de que além dos resultados das eleições desse ano, das de 2014 e as futuras serão de muita luta e de organização. Hoje, a antiga Concertación se disfarça de Nueva Mayoría; assumiu novas demandas, colocando-as em um programa que sabemos que não será cumprido, deformando-as e convertendo-as em propostas para a classe empresarial e distanciando-as de sua origem: o movimento social. Trabalharemos incansavelmente pela articulação transversal das lutas de hoje e as de amanhã. Independente de quem for eleito, continuaremos consequentes e firmes com o movimento social”.
 
A candidata da concessionária administrativa do Executivo, ex-Concertación, denominada agora Nueva Mayoría, Michelle Bachelet, obteve 45,5% dos votos válidos. Em segundo lugar, a candidata da direita tradicional Evelyn Matthei, com 24,9%. Ou seja, o triunfo de Bachelet terá que ser referendado em um segundo turno, no dia 15 de dezembro.
 
O que se projeta é que os votos emitidos para os candidatos Marco Ominami (11%) e para Alfredo Sfeir (2,5%), além dos que vierem de frações do candidato Mauricio Israel (0,6%) e de Tomás Jocelyn-Holt (0,2%) serão computados a favor de Bachelet no segundo turno.
 
Por seu lado, uma grande parte das preferências para Franco Parisi, 11,1% (também da direita tradicional), marchariam com Evelyn Matthei, apesar de que o direitista Parisi manifestou que ele não votará nela no segundo turno. As disputas entre as formas partidárias da velha direita ultraliberal também explicam a votação de Bachelet.
 
Por seu lado, Marcel Claude (partido Humanista Independentes) ficou com 3% e a candidata anticapitalista do Partido Igualdad, Roxana Miranda, 1,3%. A candidatura de Roxana – que praticamente foi realizada sem recursos - foi ignorada em seu chamado a primárias com o candidato do Partido Humanista para participar com um só nome nas presidenciais. No entanto, o Partido Humanista negou-se. Os desafios para o povo que acompanhou Roxana são a intensificação da luta social, a ampliação social de suas forças, a formação política e uma organização substancialmente superior.
 
A crise de representatividade
Do sistema de partidos políticos expressou-se novamente em que das mais de 13.500.000 de pessoas habilitadas para votar, somente 50% votaram.
 
A candidatura de Bachelet foi apoiada abertamente pelos interesses corporativos e geopolíticos do imperialismo norte-americano, pela imensa maioria do empresariado e pelas cadeias jornalísticas, sem contrapeso algum, devido a seu suposto potencial para dotar de maior governabilidade e continuidade o capitalismo ultra que vigora no Chile há quase 40 anos.
 
Sobre os interesses e a força popular
Claro que a ditadura civil-militar significou uma ofensiva histórica contra os trabalhadores e os povos do Chile. É claro que o Pentágono e seus subordinados nativos deviam deter a qualquer preço uma possível revolução no último território que está no mapa do norte mandarim. Claro que então o estabelecimento de tiranias militares se estendia como petróleo na América Latina como reação ao terror imperialista da eventual recriação de experiências inspiradas na Cuba de Fidel e de Guevara. Claro que no Chile, com um governo que tomava medidas para caminhar rumo à criação das condições materiais e culturais para o socialismo, a minoria no poder permitiu – horrorizada e lançando mão de um golpe de Estado bem financiado, como mostram os investimentos mais rentáveis - a vingança de classe prometida e o espanto exemplar para dobrar um povo autoconsciente e desarmado.
 
Naturalmente, com a memória fresca e engatilhada pela crise da dívida no início dos anos 80, esse povo algemado reanimou-se e se repolitizou. E ante o perigo dos reflexos vitoriosos da Nicarágua insurgida, apressou-se o pacto interburguês entre os velhos políticos golpistas e a embaixada norte-americana para inaugurar uma democracia de baixa intensidade; vacinada contra os assalariados e os empobrecidos, através da força e pela lei. O crime já estava consumado e nas melhores condições possíveis para os donos de tudo.
 
Com a União Soviética em estado terminal e há quase duas décadas experimentando-se no Chile a nova fase do capitalismo, hoje hegemônica, entre 1988 e 1990, se transitou no país andino para o que agora é a versão dominante da ordem mundial, Um capitalismo somente imaginado pelo liberalismo mais delirante. Um Chile onde todas as relações sociais tornaram-se mercadorias; a concentração capitalista com aval do Estado; as formas mais originais de superexploração do trabalho assalariado; o canal largo para esvaziar os recursos naturais a preço de feira e à custa de humanidade; e o imperialismo financeiro funcionando como holding monopólico para que desde seu painel de controles sejam digitadas as condições da produção, da distribuição, do intercâmbio e do consumo.
 
E também a proliferação de leis antiterroristas dedicadas a todos os que levantem a cabeça. A repressão preventiva e pela suspeita, a cultura da alienação cada vez mais sofisticada, o conformismo e a fatalidade. E como casca brilhante à custa de conservantes autorizados, uma democracia antipopular e, inclusive, mais limitada do que a aposentada república representativa. O reino da dívida e da especulação. O voto tanto como paródia de participação, tal qual a educação como ilusória alavanca de mobilidade social.
 
A administração planetária da desigualdade, a indústria das armas, do narcotráfico e da prostituição; a competição entre frações do capital; a decadência absoluta e relativa da vida da imensa maioria. A extinção do Estado de Bem Estar, a naturalização da miséria, a dependência atualizada das economias periféricas.
 
A contradição estrutural da apropriação privada do valor e do excedente coletivamente produzido. A rebeldia dos territórios sociais ainda insuficientes para modificar radicalmente a vida. Nossas faltas como resistência organizada ou mal organizada ou nada organizada. O inimigo principal sabotando-nos a vontade, a experiência acumulada, a persistência necessária. A convicção de que as contradições internas do capitalismo não o derrubarão por si mesmo. A juventude rebelde buscando, tateando, com rosto de mulher, de indígena, de migrante, de ambientalista, de crente irado, de trabalhador e de estudante pobre. A ordem das coisas e as coisas bem ordenadas dos endinheirados do topo.
 
Porém, até o melhor palco cede quando a galeria sem poltrona dos plebeus se inquieta.
Créditos da foto: Wikimedia Commons

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