sexta-feira, 19 de julho de 2013

Na estrada: provando o chão de terra da Transamazônica

o eco
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Transamazônica (BR-230): poeira na época de seca e lama na época de chuva. Foto: Marcio Isensee
Nessa viagem, os trechos grandes por terra foram de Santarém a Itaituba e de Itaituba a Jacareacanga. Na saída de Santarém, a estrada é a BR163, que começa asfaltada, mas após algumas dezenas de quilômetros passa a ser de terra. A partir de Rurópolis, ela se superpõe a BR230, mais conhecida como Transamazônica. Próximo a Trairão, a BR163 quebra para o sul em direção a Mato Grosso e se separa da Transamazônica. Seguimos pela última até Miritituba, que fica em frente a Itaituba, com um detalhe, na outra margem do Tapajós. Fizemos o trecho de 360 km de ônibus, partindo às 6h30 da matina de Santarém e chegando umas 10 horas depois, em torno de 16h30, a Miritituba. A velocidade média da viagem foi de 36 km/hora. Em Miritituba, pega-se uma balsa para atravessar o Tapajós e, finalmente, alcançar Itaituba.

Outra experiência foi alugar um carro, um pequeno Fiat Uno Mille, para, partindo de Itaituba, visitar Pimental, uma vila ribeirinha que será alagada pela usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Dessa vez, pegamos a balsa grande, que transporta veículos. Uma enorme fila se forma para entrar nessa balsa. Ela parte lotada de motos, carros e caminhões. Antes de tocar a outra margem, as motos já estão ligadas e prontas para desembarcar. Pudera, o sol está esturricando a cabeça dos motoristas. A saída da balsa lembra a largada o desenho animado da corrida maluca, com uma variedade de coisas sobre rodas disparando na primeira oportunidade de se mover. Do outro lado, em Miritituba, são 11 km de asfalto até uma saída de terra. Daí em diante, depois de alguma calmaria, prepare-se para emoções mais fortes. São 45 km de estrada de terra que começa boa e aos poucos vai se tornando mais curvilínea e acidentada, isto é, cheia de altos e baixos. Há algumas subidas que só se faz em 1ª marcha e a descida do outro lado lembra uma montanha russa. No final, ao se aproximar de novo do Tapajós, há uma procissão de atoleiros. Ficamos logo no primeiro. Fomos salvos pelo caminhão do tipo pau-de-arara, que faz o transporte regular entre Miritituba e Pimental. O motorista parou, desceu uma meia dúzia de boas almas que ajudaram a tirar o Mille da lama. A estrada termina numa ponte caída que, hoje, serve de trampolim para a criançada pular no rio que ela deveria cruzar. Dali, o jeito é deixar o carro e entrar em Pimental a pé. No dia seguinte, voltando, por um milagre não ficamos na estrada de novo. Ao tentar desviar de um buraco, enfiamos (é bom poder escrever na 1ª pessoa do plural e dividir a culpa) a roda numa vala lateral. Felizmente, o embalo do carro nos salvou de mais uma parada forçada, debaixo do sol a pino, em uma estrada pouco trafegada.

Entre Santarém e Itaituba, urubus enfeitam a placa do restaurante de beira de estrada. Foto: Eduardo Pegurier
Depois disso, fizemos uma ida e volta Itaituba- Jacareacanga de micro-ônibus, o transporte regular entre as duas cidades. Cada perna tem 355 km de pura Transamazônica que, por sua vez, é de pura terra. Tempo de percurso: cerca de 8h à média de 44 km/hora. A Transamazônica nesse trecho é reconhecidamente perigosa. Cruzamos com poucos carros no percurso. Há vezes em que o carro ou caminhão na contramão provoca tal nuvem de poeira que é preciso parar até que ela se assente e o motorista volte a enxergar. Há muitas pontes, todas estreitas e de madeira. Só passa um veículo de cada vez. A viagem cruza o Parque Nacional da Amazônia, um trecho de cerca de 100 km. A região entre Itaituba e Jacareacanga é pouco desmatada, mas é brutal a diferença dentro do Parna da Amazônia. Lá, a floresta está intacta.

Nos trechos antes e depois, a coisa alterna. Há trechos desmatados e outros ainda rodeados de floresta. Perto das duas cidades, as áreas abertas ocupadas por fazendas e gado são mais visíveis. A parada no caminho é Hotel/Restaurante Amigo do Garimpeiro. Há um campo de pouso logo ao lado, com vários aviões pequenos de asa alta. Três passageiros pedem que o motorista os deixe lá. “Eles só estão nos esperando para decolar”, diz uma moça gorducha, de vestido de oncinha e um poodle branco no colo. Outra cena foi cruzar com uma pick-up com uma moto amarrada em pé sobre o capô. O surreal é que havia um sujeito montado na moto. Na volta de Jacareacanga, cruzamos com uma pick up com uma ponta de eixo quebrado, respectiva roda empenada 45 graus, sem chance de continuar a viagem. O motorista do micro-ônibus, da viação Buburé, para o veículo, salta, se inteira da situação e oferece carona para a turma da pick-up. Entram no nosso ônibus umas 8 pessoas, metade crianças. Várias parecem não falar português. Provavelmente são índios munduruku. Sem essa solidariedade sabe-se lá quanto tempo ficariam presos na Transamazônica esperando por socorro.

Nem sempre a estrada ser de terra é desvantagem. Ouvi um local dizer que com frequência é melhor do que asfalto. Numa região em que 9 meses são de chuva, uma estrada de asfalto esburaca com facilidade. As estradas de terra são mais baratas de manter. Passa-se uma máquina de vez em quando e pronto. É mais lento, os buracos, barrancos e pontes apertadas no fim de ladeiras enganam e podem até matar os motoristas incautos ou principiantes. Tem cara de aventura, tem cara de Amazônia. 



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