sábado, 25 de fevereiro de 2012

Como enfrentar a sexta extinção em massa


Como enfrentar a sexta extinção em massa

Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo 



 

Referimos-nos anteriormente ao fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter inaugurado uma nova era geológica – o antropoceno - era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o eventual exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Estas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada milhão de anos, exterminando grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos quando foram dizimados os dinossauros entre outros.

Até agora todas as extinções eram ocasonadas pelas forças do próprio universo e da Terra a exemplo da queda de meteoros rasantes ou de convulsões climáticas. A sétima está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next Magazin, n.19. Os dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor de ecologia em Standford calcula em 250.000 espécies exerminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson de Harvard dá números mais baixos, entre 27.000 e 1000.000 espécies por ano (R Barbault, Ecologia geral 2011, p.318).

O ecólogo E. Goldsmith da Universidade da Georgia afirma que a humanidade ao tornar o mundo cada vez mais empobrecido, degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em três milhões de anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio civilizatório e quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia americana, escreveu:”Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio mas não sabem lidar com o biocídio e o geocídio”(Our Way into the Future, 1990 p.104).

Podemos desacelerar a sétima extinção em massa já que somos seus principais causadores? Podemos e devemos. Um bom sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões de anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo que suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não contra nós. Mas ele pede a nossa cooperação já que somos os maiores causadores de tantos danos. Agora é a hora de despertar enquanto há tempo.

O primeiro que importa fazer é renovar o pacto natural entre Terra e Humanidade. A Terra nos dá tudo o que precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra. Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e práticas ecocidas e biocidas.

O segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em sintonia com os dinamismos dos ecosistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhe a vitalidade e garantindo-lhe sustentabilidade. Para isso necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de submeter e reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.

O terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos mas para com todos os seres, compaixão como forma de amor e cuidado. A partir de agora eles dependem de nós se vão continuar a viver ou se serão condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida. No meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozóica que coloca o ecológico no centro. Só assim há esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso planeta vivo.
Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway  de O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação, Vozes 2011.

Comissão da Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS

fonte - GIBA-CIMI, MT



Prezados (as),



Comissão da Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS

Relatório da 1ª visita/2012 às comunidades guarani-kaiowá dos territórios reocupados em conflito, localizados no cone sul de MS, na faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai. Período de visitação/diligência: 17/02 a 22/02/2012

Objetivo de visitação/diligência: Nós integrantes da comissão de Aty Guasu encarregada de realizar acompanhamento e levantamento in loco das situações dos nossos parentes Guarani-Kaiowá das áreas reocupadas em conflito, apesar de todas as nossas dificuldades, tais como: sem recursos, sem apoio nenhum, etc, estivemos em diligência aos territórios tradicionais reocupados que se encontram em conflito intenso no cone sul de Mato Grosso do Sul. Um dos nossos objetivos, como porta-vozes da Aty Guasu, é ouvir e ver diretamente os integrantes das comunidades pertencentes às partes dos territórios em conflito. Somente com a proteção divina da ñadejara ypy (deuses) não aconteceu nada de ruim conosco durante a visitação e conseguimos com êxito receber as informações diversas das lideranças que se tornarão como as pautas de debate na Aty Guasu/2012. Além disso, levamos a mensagem aos parentes que haverá aty guasu em Terra Indígena Jaguapiré-Tacuru-MS onde serão apresentadas e socializadas as nossas demandas e reivindicações às autoridades competentes, buscando as soluções possíveis para nossas demandas atuais.

Assim, pretendemos através deste relatório reproduzir e destacar alguns relatos das lideranças dos territórios em conflitos (Kurusu Amba, Ypo’i, Pyelito kue, Mbarakay, Yvy Katu, Sombrerito, Guaiviry, entre outros.).

A maioria das lideranças narraram que na pequena parte reocupada (Pyelito kue e Ypo’i, Kurusu Amba, etc) dos territórios tradicionais tekoha guasu onde se encontra em manifestação/protesto contínuo, ali eles recebem frequentemente os ataque cruéis e ameaças de variadas formas: “à noite fazem tiros nas redondezas dos nossos acampamentos, chegaram ao acampamento procurando identificar nossas lideranças e ameaçando de morte, soltaram gados no acampamento para nos dispersar, botou fogo no capim ao próximo do acampamento Pyelito kue para nos criminalizar”. Em geral, os pistoleiros estão cercando e isolando as áreas reocupadas, não deixando perambular os indígenas.

“Pela estrada vicinal há pistoleiros de motos e carros especiais ameaçando-nos.” “Em torno do nosso acampamento, dia e noite há pistoleiros de cavalo e motoqueiro também”. Contaram lideranças de Pyelito kue-Mbarakay e Kurusu Amba.

“Aqui nos acampamentos há crianças-alunas, porém, não há saída para criançadas irem frequentar a escola por conta do impedimento dos pistoleiros das fazendas”. Queríamos a sala de aula/escola aqui na área.

“Aqui não chega a equipe da saúde, os pistoleiros não deixa”. “Aqui no acampamento, nós todos daqui, várias vezes, já passamos fome, doente. a FUNAI demora em entregar alguns alimentos”. “Apesar de todas as ameaças e misérias em que vivemos aqui dia-a-dia, porém nós não vamos desistir em luta pela nossa terra antiga.” “Vamos aguardar aqui no acampamento a demarcação de nosso tekoha guasu”. Assim, narraram lideranças guarani-kaiowá do tekoha Pyelito kue-Mbarakay, Ypo’i, Kurusu Amba.

Um dos temas preocupantes e graves (no que diz respeito à área de assistência à saúde indígena) foi socializado entre lideranças de tekoha Yvy Katu e Sombrerito, Kurusu Amba, Potrero Guasu. Comentaram que algumas pessoas indígenas do acampamento em conflito (Sombrerito, Pyelito kue, Potrero Guasu) que foram encaminhados aos hospitais, retornaram ao acampamento já sem vida ou morto. Por exemplo: “De tekoha Sombrerito uma mulher indígena pós-parto tradicional foi encaminhado ao hospital junto com bebê, algum dias depois, ela foi entregue aos parentes já sem vida. Foi um susto e medo” disse líder indígena.

Em geral, os integrantes guarani-kaiowá das áreas reocupadas não são atendidos pela equipe de saúde, quando os atenderam, muitas vezes atendem de modo inadequados, gerando surpresas e constrangimentos nas lideranças e parentes dos acampamentos.

“No final de 2011, o kaiowá Rosalino Lopes ferido pelos pistoleiros em Pyelito kue morreu sem atendimento médico”. “Em Kurusu Amba morreram 03 crianças por falta de atendimentos da equipe de saúde” Lembraram as lideranças.

Um dos assuntos grave foi socializado pela liderança de Kurusu Amba, “uma parente indígena da aldeia Takuapiry faleceu no hospital e foi entregue aos parentes e famílias o corpo tudo cortado ou dilacerado, ao longo do peito e barriga teve corte e tripa e pulmões foram retirados do corpo”.

No que diz respeito à equipe de saúde indígena da FUNASA/DESAI: a liderança de tekoha Potrero Guasu narrou que ele teve desentendimento com um dos conselheiros da equipe da saúde indígena local, em Paranhos-MS. Ele como liderança da área reocupada Potrero Guasu denunciou a equipe da saúde local, após morte de um indígena por falta de atendimento da equipe de saúde, porém um conselheiro indígena de saúde local contrariou a sua denúncia, defendendo a DESAI. Visto que o conselheiro de saúde indígena é funcionário da DESAI ou equipe de saúde indígena. “Um meu tio morreu por falta de medicamento, sobre isso queria falar na reunião em Paranhos, mas fui interrompido, expulso por um conselheiro da equipe de saúde, não deixou eu falar”, tive q sair da reunião onde era tratado o atendimento a saúde indígena”, contou. Ainda observou e disse: “a equipe de saúde e a DESAI e geral deveria mudar a formar de trabalhar e passar a ouvir a liderança do tekoha e Aty Guasu, não ouvir somente o conselheiro dele”. Diante disso, um dos temas da Aty Guasu será a formar de trabalhar a equipe da DESAI e saúde indígena nas áreas reocupadas. Aguardamos o responsável pela saúde indígena da DESAI e do Ministério da Saúde.

Do exposto acima, nós da comissão da Aty Guasu, consideramos que todos os relatos das lideranças das áreas reocupadas serão pautas da Aty Guasu, portanto efetuamos os registros dos fatos constatados durante a nossa visita aos referidos acampamentos indígenas, e por fim submetemos a apreciação de todas as autoridades brasileiras (MPF,SDH, PRESIDENTE DA REPÚBLICA, FUNAI, FUNASA, ETC) para tomar providências cabíveis e legais.

Por último, aproveitamos a oportunidade para reforçar o convite das lideranças guarani-kaiowá a fim de que Vossas Excelências participem da Aty Guasu que haverá entre os dias 01/03/2012 e 03/03/2012 na T. I. Jaguapiré-Tacuru-MS. Estamos à disposição de Vossas Excelências, para os demais esclarecimentos e diálogos.

Atenciosamente, Dourados-MS, 23 de fevereiro de 2012.

Conselho/Comissão de Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS,

Eliseu Lopes, Rosalino Ortiz, Tonico Benites

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MATO GROSSO DO SUL_ÍNDIOS GUARANIS EM EXTERMÍNIO E ESTADO DE INDIGÊNCIA

http://educomambiental.blogspot.com/


MATO GROSSO DO SUL_ÍNDIOS GUARANIS EM EXTERMÍNIO E ESTADO DE INDIGÊNCIA

A fé mercantilizada,demoniza os índios,incedeia seus templos religiosos. O índice de suicidio entre os índios Guaranis, em Dourados -MS é o maior do mundo! A discriminação religiosa coloca os índios Guaranis onde nem os cachorros habitam!


VEJAM ABAIXO  ESTE DOCUMENTÁRIO EXIBIDO DURANTE O FORUM SOCIAL TEMÁTICO EM PORTO ALEGRE - BRASIL
    

DOCUMENTÁRIO:    GUARANI KAIOWÁ_
O Conflito da terra_Rosa Gauditano_PARTE II 


A Organização das Nações Unidas no Brasil lançou no final de 2011 um guia para auxiliar a denúncia de discriminação étnico-racial. O documento apresenta o conjunto de instrumentos nacionais e internacionais que garantem a igualdade étnico-racial, bem como informações sobre o marco legal brasileiro e internacional, além de endereços dos órgãos de atendimento à população nos estados e capitais.O “Guia de Orientação das Nações Unidas no Brasil para Denúncias de Discriminação Étnico-racial” responde a uma série de demandas da sociedade civil identificadas durante a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (II CONAPIR), realizada em 2009.  Acesse aqui:
          http://www.onu.org.br/img/2012/02/guia-para-denuncias-de-discriminacao2.pdf

ESPN 'detona' Eder em matéria sobre 'escândalos' envolvendo Copa 2014

olhar direto
http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?noticia=ESPN_detona_Eder_em_materia_sobre_escandalos_envolvendo_Copa_2014&id=239478

24/02/2012 - 17:15

ESPN 'detona' Eder em matéria sobre 'escândalos' envolvendo Copa 2014

Da Redação - Laura Petraglia e Luiz Cesar de Moraes
Foto: ReproduçãoESPN 'detona' Eder em matéria sobre 'escândalos' envolvendo Copa 2014
O Canal de TV ESPN, que dá exclusividade à divulgação de notícias esportivas do mundo inteiro, divulgou hoje (24) um vídeo com críticas contundentes ao andamento das obras da Copa 2014 em Cuiabá, confrontando os problemas que têm sido denunciados com as declarações do secretário Éder Moraes, que insiste em negar qualquer problema. As críticas são consistentes e a maioria já de conhecimento da população mato grossense.

O vídeo menciona a licitação do relógio da Copa como um dos episódios mal explicados. Embora Eder justifique que esta foi uma licitação realizada dentro dos princípios da legalidade, a matéria da ESPN recorda que o excesso de críticas da mídia e da população levou a Secopa a cancelar a aquisição e providenciar outra, a preços bem abaixo da primeira. Por sinal, o novo relógio foi inaugurado hoje pelo secretário Eder Moraes.

A mudança do modal de BRT (Bus Rapid Transit) para VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) foi outro item mencionado na matéria do Canal ESPN. Esta alteração foi decidida a ‘toque de caixa’ pela cúpula do governo do Estado, em uma decisão que onerou os custos do sistema de transporte em cerca de R$ 700 milhões. Esta alteração também foi apontada como uma das causas da queda do ministro das Cidades, Mário Negromonte, cujo ministério autorizou a mudança.

Além disso, o vídeo recorda que das 72 intervenções previstas pelo Comitê Organizador Local (COL), apenas seis estão em andamento até o momento, e relembra os escândalos envolvendo o secretário extraordinário da Copa 2014, Eder Moraes, desde a época em que ele era secretário de Estado de Fazenda, passando pela extinta Agecopa, até os dias de hoje.

Em tom irônico, o repórter do programa Histórias do Esporte, que acompanha o assunto desde o anúncio da Copa do Mundo de 2014, as primeiras e principais intervenções urbanas para a realização do evento no Brasil, inclusive as obras das novas arenas, menciona também a questão ambiental relatando que, ao lado de tudo isso, há o gravíssimo problema de envenenamento do ar e dos rios pelo uso descontrolado de agrotóxicos no estado do Mato Grosso.

Veja, abaixo, a matéria completa do Histórias do Esporte:

Com cenário dramático, Cuiabá só iniciou seis das 72 intervenções para Copa

Com cenário dramático, Cuiabá só iniciou seis das 72 intervenções para Copa

http://espn.estadao.com.br/Eder%20Moraes/noticia/242428_VIDEO+COM+CENARIO+DRAMATICO+CUIABA+SO+INICIOU+SEIS+DAS+72+INTERVENCOES+PARA+COPA


VÍDEO: Com cenário dramático, Cuiabá só iniciou seis das 72 intervenções para Copa

por ESPN.com.br
O programa Histórias do Esporte acompanha, desde o anúncio da Copa do Mundo de 2014, as primeiras e principais intervenções urbanas para a realização do evento no Brasil, além das obras das novas arenas.

Na sede pantaneira, Cuiabá, o cenário é dramático. Das 72 intervenções previstas pelo Comitê Organizador Local (COL), apenas seis estão em andamento até o momento.

O secretário extraordinário da Copa na cidade, Eder de Moraes, tem seu nome envolvido em denúncias de irregularidades de desvio de dinheiro público dos tempos em que ainda era secretário da fazenda do estado.

Obras que não saem do papel, indícios de superfaturamento, como a compra do relógio comemorativo do Mundial, que custou mais de R$ 70 mil e que foi desativado depois de dois meses, são apenas alguns dos maus exemplos que a reportagem do programa da ESPN encontrou em Cuiabá.

Ao lado de tudo isso, há o gravíssimo problema de envenenamento do ar e dos rios pelo uso descontrolado de agrotóxicos no estado do Mato Grosso. Veja, abaixo, a matéria completa doHistórias do Esporte.



Veja reportagem do programa 'Histórias do Esporte'!

Vídeo mostra detentos sendo torturados em Aracruz

globo
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/02/video-mostra-detentos-sendo-torturados-em-aracruz-diz-tj-es.html


23/02/2012 19h11 - Atualizado em 23/02/2012 20h54

Vídeo mostra detentos sendo torturados em Aracruz, diz TJ-ES

Agente penitenciário fez as imagens e enviou denúncia ao tribunal.
Sete servidores do Centro de Detenção Provisória foram afastados.

Leandro NossaDo G1 ES
102 comentários
Uma denúncia de tortura e maus-tratos a internos do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Aracruz, no Norte do estado, foi encaminhada ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES) no mês de fevereiro. Em vídeos realizados por um agente penitenciário do local, e divulgados nesta quinta-feira (23), vários detentos são colocados em filas, ficam nus e realizam exercícios físicos solicitados por funcionários. Veja no vídeo ao lado uma das ações de tortura psicológica realizada na unidade prisional.
Segundo o presidente do TJ-ES, o desembargador Pedro Valls Feu Rosa, os presos foram expostos a situações vexatórias. Como medida administrativa, a Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) afastou três diretores e quatro agentes do CDP do município. O Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) e a promotoria de Aracruz também investigam a situação. 
De acordo com o Tribunal de Justiça, o vídeo foi gravado por um agente penitenciário nos dias 8 e 16 de dezembro de 2011, e 22 de janeiro de 2012, e chegou ao tribunal na última sexta-feira (17). Segundo a Sejus, este servidor foi transferido para outra unidade penitenciária por ter recebido ameaças.
Segundo o tribunal, esta é a primeira denúncia recebida de tortura acompanhada de provas, desde o surgimento do torturômetro há um mês. Além da denúncia comprovada, o TJ-ES também recebeu outras denúncias de tortura em presídios espalhados pelo estado. De acordo com Feu Rosa, as apurações vão continuar para que os envolvidos sejam penalizados criminalmente.
O presidente do TJ-ES considerou a situação em Aracruz inaceitável. "Isso é um tapa na cara do sistema legal, um tapa na cara do mundo das leis e de toda a sociedade capixaba. Esse pessoal não respeita nada. Chegou a hora do estado e de toda a população se unir para reagir a esses feitos", disse.
Capacidade do CDP
No Centro de Detenção Provisória (CDP) de Aracruz, há cerca de 210 detentos que ainda não foram julgados pela justiça. Segundo a Sejus, a capacidade total é de 178, mas atualmente está superlotada. O presídio conta com 72 agentes.
O secretário estadual de Justiça, Ângelo Roncalli, foi cauteloso ao comentar os excessos dos servidores em Aracruz. "Não dá para fazer um pré-julgamento, temos que apurar toda a situação. O governador Renato Casagrande já foi notificado e a diretoria do presídio afastada. Quanto às outras denúncias recebidas em outras unidades, ainda não há provas. Uma sindicância foi aberta e vamos agilizar a apuração", conta.
Imagens
Nos mais de 40 minutos de vídeos divulgados pelo Tribunal de Justiça, diversos detentos são colocados em filas, ficam nus, realizam exercícios físicos solicitados por agentes, além de realizarem uma série de agachamentos. Os agentes intimidam os presos durante as ações com xingamentos e palavras de ordem. "Vocês vão ficar aí até atingirem a perfeição desse procedimento", diz um dos agentes penitenciários no vídeo.
Mesmo sem a presença de agressões físicas nos vídeos, o desembargador William Silva afirmou que a tortura é psicológica. "Este é o pior tipo de tortura. Só se identifica com ressonância. Agressão é fácil de saber, psicológica não", comentou.
Tortura em Aracruz (Foto: Reprodução / Tribunal de Justiça do Espírito Santo)Tortura em Aracruz (Foto: Reprodução / Tribunal de Justiça do Espírito Santo)
Outras denúncias
Além do ocorrido em Aracruz, a Comissão de Prevenção e Enfrentamento à Tortura do Tribunal de Justiça do Espírito Santo também recebeu outras denúncias de tortura em 2012. Presídios da Serra, Viana e Vila Velha, na Grande Vitória, em São Mateus, no Norte, e Colatina, no Noroeste, também tiveram presos torturados, mas sem provas. "Temos muitas denúncias, mas ainda temos que apurar porque há muitos relatos anônimos, registros inconclusivos, mas são denúncias que serão apuradas", explica William Silva.
Motivação dos crimes
Sobre o que poderia motivar os agentes penitenciários a cometerem os atos de tortura, o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Espírito Santo, Gilmar Ferreira de Oliveira, alega que o governo precisa orientar melhor os servidores. "É uma questão de formação. O estado tem que orientar mais, tem que dar boas condições de trabalho. É possível que num levantamento mais profundo a gente possa detectar melhor os motivos. Mas nenhuma justificativa é aceitável. Salário, condições de trabalho, nada justifica", salientou.

BOAVENTURA - Carta às esquerdas

esquerda net
http://www.esquerda.net/artigo/carta-%C3%A0s-esquerdas


Carta às esquerdas

Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Eis uma lista de nove ideias.
Não há internacionalismo sem interculturalismo. Foto de Paulete Matos
Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros actores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.
Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.
Publicado originalmente na revista Visão