quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Manifesto Nambikwara

aviado por GILBERTO SANTOS
CIMI


Manifesto Nambikwara
O povo Nambikwara com suas grandes lideranças se concentra e protesta contra a PEC 215 e a Portaria 303 do governo federal.
No dia 06/08/2012 ecoou forte o grito de guerra organizado pelo povo Nambikwara na aldeia Nova Mutum, no município de Comodoro/MT, contra a proposta de emenda constitucional  - PEC 215 e a Portaria 303 da Advocacia Geral da República / AGU do Governo Federal.
O conteúdo destes documentos, havia sido amplamente discutido nas aldeias pelo cacique geral Jair Nambikwara Halotesu e o pajé Renato Kunékinã Nambikwara que participaram do Abril Indígena, em Cuiabá e da Assembleia Geral da Cúpula dos Povos no Rio de Janeiro. Eles estão seriamente preocupados com as mudanças previstas nesta legislação e temem suas conseqüências para o povo Nambikwara e outros parentes de todo Brasil.
Por isso o Povo Nambikwara foi convocado, como também a TV Record e, responsáveis pelo jornal local, para registrar o grande manifesto contrário à aprovação destas emendas constitucionais anunciadas.
Fiéis à cultura Nambikwara, eles se prepararam com pinturas corporais e instrumentos de guerra e, assim saíram da mata em fila, crianças, mulheres, homens e jovens para o centro da aldeia. Ali houve as falas das lideranças e, em seguida, uma organizada simulação de guerra com, cantos e movimentos, produzindo sons, com as armas que eram batidas no chão e nas mãos.
Jair Nambikwara Halotesu, cacique geral, apresentou os dois documentos e disse: “Isto que está escrito aqui nestes documentos prejudica muito os povos indígenas e vai acabar com os direitos que estão na Constituição Federal que foi aprovada em 1988. Agora nós estamos aqui, o Povo Nambikwara, para manifestar contra, e estamos pedindo à presidenta Dilma revogar a Portaria 303 e não aprovar a Pec 215.
Se o Governo não escutar a gente, se não respeitar a nossa lei da Constituição, nós vamos fechar a BR onde passam as ferramentas do governo e, se não resolver, nós vamos quebrar as ponte do rio Mutum aqui em cima, perto de Vilhena e, do rio Novo, lá embaixo onde entra por Campos de Julho”.
Repórter: Que prazo vocês vão dar? – “Nós vamos dar 30 dias”.
Renato Kunékina Nambikawara, pajé, continuou: “Por que o Governo não respeita a nossa lei e a nossa terra? Ele não pode fazer isso. Nós somos gente, somos pessoas. Nós somos tudo filho de Deus e ninguém pode tirar o que é do outro. Ninguém é mais do que o outro. Por isso eu falo na presença de Deus. Nas cidades não tem igrejas? Tem sim! Então por que não respeitam a lei ? Por que não acreditam em Deus? Cara safado que faz isto. Por que o branco não entende isto, ele é estudado, tem faculdade. Será que o branco não aprende? Ele tem que aprender com nós índios.  Por isto nós estamos fazendo este protesto. Nós queremos melhoramento da educação e da saúde que está precária. Nós queremos saúde de qualidade. Nós queremos a aprovação do Estatuto dos povos indígenas. Se não for isto, nós vamos brigar, vai dar guerra. Se o governo não respeitar nossa reivindicação, o pajé vai mandar o espírito mau lá no Congresso Nacional e lá no governo. Dilma vai ficar magrinho, os deputados e senadores, os governadores vão morrer. Vão acabar. Vão para o inferno”.
Lúcio Mamaindê, cacique da aldeia Tucumã se pronunciou contra os que exploram terra e tiram a mata: “O branco derruba muito mato e queima. Eu não quero queimar e acabar com a nossa terra.  Ele quer plantar soja e ficar rico. O branco é rico demais, eu não sou rico, não tenho carro, não sou funcionário. Mas estou lutando pela nossa terra e nossos direitos.  E se o governo e o rico não respeitar, ele vai acidentar lá na frente, Deus vai mandar.  Por isto, nós estamos aqui manifestando e depois vamos mandar documento assinado para entregar pro governo”.
O cacique Isac Kithãulu, também se expressou dizendo: “O governo brasileiro precisa escutar a nossa fala e respeitar os povos indígenas, a gente também tem que respeitar, por isso nós estamos chamando atenção com esta manifestação que o povo Nambikwara está reivindicando”.
Todo povo, na maior seriedade, aplaudia as falas com palavras na língua Nambikwara levantando os instrumentos e batendo no chão.
Em seguida alguns pajés, alternadamente, foram ao meio do grupo e fizeram o anúncio da motivação de guerra e, em conjunto, o povo fez a simulação guerreira com marcha, dança, gestos e cantos próprios.
Este canto de guerra não pode ser cantado em nenhum outro momento e nem pode ser escrito.
Comodoro, 08 de agosto de 2012
Equipe do Cimi - Ana Bela e Irmã Lourdes Christ

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