terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Laranjeira Nhanderu, MS

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Laranjeira Nhanderu, MS



DIREITOS HUMANOS URGENTE! Os despejos não param, e assim como aconteceu em Pinheirinho, em SJC, querem repetir a cena com a aldeia Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante, MS. A situação é desesperadora. Parem o despejo de Laranjeira Nhanderu!!!

DESDE COMEÇO DE ANO 2012 ESTAMOS TODOS EM DESESPEROS NO MS. Na verdade, de fato a situação atual de nosso povo guarani-kaiowá cada dia se agrava e se encontra em processo final de dizimação, portanto todos nos estamos em desespero total NÃO HÁ ESPERANÇA DE MANTER VIVA A NOSSA VIDA E NEM CULTURA SEM TERRA. 

As ações nocivas contra nossas vidas e culturas procedem de duas instancias , isto é, quando não é pistoleiros das fazendas e próprias Justiças geram INJUSTIÇAS, É ASSIM INFELIZMENTE A REALIDADE NO MS. Acabamos de receber notícia que a PF está se preparando para despejar a força a comunidade de Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhantes-MS. Neste país Brasil parece que não há Justiça para povo Guarani-Kaiowá. Enviarei lhe a notícia TONICO GUARANI KAIOWÁ

 -------------------------------------------------------------- A JUSTIÇA MANDA SUSPENDER AS DEMARCAÇÕES DAS TERRAS INDÍGENAS E DETERMINA A EXPULSÃO DOS GUARANI KAIOWÁ PORQUE SUAS TERRAS NÃO ESTÃO SENDO DEMARCADAS. PODE ISTO? O UOL publicou a matéria abaixo que traz mais informações sobre a situação. --------------------------------------------------------------- 

“A Justiça deu prazo de 15 dias para que um grupo de índios guarani-kaiowá da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu, em Mato Grosso do Sul, desocupe a área, que é reivindicada por fazendeiros. A justificativa, segundo informação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na região, foi que a Fundação Nacional do Índio (Funai) não apresentou o relatório de identificação da terra. Segundo a índia Luciene Almeida, filha de uma liderança local, policiais federais estiveram na aldeia nesta sexta-feira (27) para levar a ordem de reintegração de posse e comunicar que os índios teriam 15 dias para sair das terras. Na aldeia vivem 170 índios, sendo 100 crianças e 30 idosos. “Não temos para onde ir. Estamos aqui há quatro anos e já tivemos que ficar na beira da estrada duas vezes”, disse Luciene, se referindo a outras duas ordens de desocupação que a tribo teve que cumprir. A Funai informou à Agência Brasil que assinou com o Ministério Público um termo de ajustamento para concluir a identificação da terra indígena até o fim de 2011, mas o processo foi paralisado várias vezes por determinação da Justiça. Além disso, garantiu que a procuradoria do órgão recorrerá da decisão para que os índios guarani-kaiowá continuem na área. Já em 2012, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deu parecer recomendando que a demarcação de terras indígenas deve continuar em Mato Grosso do Sul. Ele se manifestou em recurso que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) contra decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que suspendeu a demarcação de terras no estado atendendo a um pedido da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Femasul). Para Gurgel, a demarcação assegura o interesse público e deve ser mantida, pois permite a promoção da ordem, economia e segurança pública. “Busca-se eliminar um conflito fundiário que não é risco hipotético, mas fato consumado. Do contrário, perduraria uma situação de grave ameaça à integridade física de inúmeros cidadãos e ao próprio patrimônio público.” * Colaboraram Débora Zampier e Alex Rodrigues 

------------------------------------------------------------------------- Estes são os fatos. A decisão sobre a retomada das demarcações – cuja suspensão foi o motivo alegado pelo juiz que determinou a reintegração de posse solicitada pelos fazendeiros – está nas mãos do Supremo Tribunal Federal. Uma decisão favorável do STF à retomada da demarcação das terras indígenas retira o argumento jurídico adotado pelo juiz que determinou a retirada das famílias guarani de seu território tradicional retomado. 

Terra Indígena Kayapó (ou Amazônia não é para principiante)

fonte - o eco
http://www.oeco.com.br/gustavo-geiser-lista/25670-amazonia-nao-e-para-principiante?utm_source=newsletter_307&utm_medium=email&utm_campaign=as-novidades-de-hoje-em-oeco

Terra Indígena Kayapó (ou Amazônia não é para principiante)

Cartório improvisado para tomada de depoimento dos posseiros. Foto: Gustavo Geiser
Em 2006, participei da minha primeira operação envolvendo desmatamento em terras indígenas, e a primeira em um lugar remoto. Foi na Terra Indígena Kayapó, distante um dia inteiro, de Tucumã (Pará), por sua vez, a quase 1.000 km de Belém. Lá, na fronteira dessas terras, fazendas estariam sendo abertas na mata.

Nossa equipe tinha cerca de 15 policiais federais, juntamente com integrantes da Funai, e dois indígenas, sendo um bastante jovem, que se denominava "guerreiro", e outro que possuía um cargo mais alto na hierarquia Kayapó. Assim, minha primeira descoberta foi que a hierarquia dos Kayapó não se resume a cacique e pajé, seguida dos demais índios. Segundo um dos colegas da FUNAI, esse velho índio teria cerca de 80 anos, ainda que fosse mais forte e resistente nas caminhadas pela mata do que boa parte dos policiais ali presentes -- eu incluso, mesmo com menos de 30 anos, na época.

Acampamos junto ao barraco abandonado de um posseiro que tinha desistido de sua área (não sei dizer o porquê, mas posteriormente explico uma hipótese), e, a partir desse ponto, fazíamos incursões às áreas onde haveriam novas aberturas, queimadas e formação de pastagem. Os indígenas se ocupavam, quando não estavam nos guiando, em debater com índios de outras aldeias, através de um rádio amador que tinham trazido. Um deles traduzia para mim as conversas, que giravam em torno de nossa presença na área, sendo alguns indígenas, e representantes de algumas aldeias, favoráveis e outros radicalmente contra terem trazido a Polícia Federal ao local. Ou seja, seu envolvimento político ia muito além da aldeia, atingindo, de fato, o conceito de nação indígena.
 

Percebi desse jeito que havia um conflito entre eles: havia os contrários à nossa presença, os quais temiam, após a expulsão de posseiros (consensual entre todos), que acabássemos fechando um garimpo situado junto a uma aldeia próxima. Essa aldeia estava em acordo com os garimpeiros, cobrava impostos sobre o ouro extraído e controlava o fluxo de pessoas e de armas (sim, um dos posseiros presos possuía um papel escrito e assinado por um líder indígena autorizando-o a portar arma de fogo). Quer dizer, aqueles indígenas achavam vantajoso manter o garimpo e lucravam com ele. Temiam, com toda razão, que a Polícia Federal pudesse, literalmente, fechar sua mina de ouro.

Concentramo-nos na retirada dos posseiros. Um sobrevoo de helicóptero mostrou que o garimpo era por demais povoado para que pudesse ser enfrentado por uma equipe com o tamanho e recursos da nossa. Uma operação específica deveria ser planejada para aquele fim. O piloto do helicóptero chegou a relatar um disparo para o alto, indicando que garimpeiros e índios estariam dispostos ao enfrentamento. Enquanto isso, seguíamos nas estradas abertas no interior da reserva até as casas e barracos dos posseiros, que tentavam abrir novas pastagens.

Em uma dessas incursões, o velho índio, chamado Piu-Djô, nos abandonou. Por motivos desconhecidos, se embrenhou na mata enquanto fazíamos nosso trabalho. Ele tinha consigo uma borduna, uma espécie de cassetete aparentemente rústico, porém de uma arquitetura letal em um combate. Sua empunhadura é estreita e leve como um taco de beisebol, enquanto a extremidade é pesada, feita para derrubar o oponente. O detalhe é a ponta: ela não é plana, termina em um cone pontudo. Sua função, contou Piu-Djô, é golpear e perfurar o crânio do inimigo, depois do impacto na cabeça que inevitavelmente o levará ao chão. Na guerra, menos um para se preocupar.

Retirada de posseiros do interior da Terra Indígena Kayapó, no Pará, em 2006. Foto: Gustavo Geiser
Perguntei sobre outras armas ou castigos que impunham aos oponentes, inclusive aos brancos. Ele me disse que havia casos em que o cidadão era amarrado com uma fogueira sob os pés. "Pequena", para fazer seu trabalho com lentidão, fez questão de ressaltar. Pareceu história que velho conta. Não descartei ser verídica, embora esses indígenas tenham se mostrado pacíficos nas oportunidades em que os encontrei.

Pois bem, já voltávamos dessa trilha, escoltando para fora da Terra Indígena um posseiro desalojado. Ele ia na frente, de moto, e nós atrás, na viatura 4x4. A velocidade era lenta devido à precariedade da estrada.

Qual não foi a nossa surpresa quando vimos o velho índio, de borduna à mão, de tocaia atrás de uma árvore! Gritamos e isso o fez relaxar, deixando o posseiro passar com sua moto. Ficou a forte impressão de que, não fosse a nossa intervenção, aquele posseiro teria sido abatido com um golpe certeiro.

O garimpo só foi desmantelado em novembro de 2010, mas persistem outros pequenos naquela e em outras terras indígenas, pois, como pude notar, é do interesse deles ter essa fonte de renda. Pelas minhas informações, as tentativas de abrir fazendas que motivaram aquela operação foram freadas. O investimento na formação de pastagens é alto e o risco da perda da posse da terra fez com que os posseiros procurassem outros lugares, menos conflituosos. Talvez por isso as terras indígenas, ao contrário de outras unidades de conservação, tenham um índice menor de desmatamento. Quer dizer, “desmatamento” no sentido de corte raso, e não no sentido de retirada de madeira nobre.

Conversando com o velho índio, durante a operação, sondei por curiosidade:

- Piu-Djô, tem mogno ainda aqui?

- Não...

- Venderam tudo já?

- Já, faz tempo.

Foi assim, que no começo da minha carreira como perito da Polícia Federal, desfiz qualquer ideia romântica que pudesse ter dos índios. Sou grato a isso. Passei até a aceitar melhor a inimputabilidade. Índio não é “protetor da natureza, sem ambições materiais”, mas tampouco é alguém com os mesmos de valores que eu. Aceitei como índio aquela figura de bermuda, falando português. Apesar dessa caracterização, entendi que suas atitudes são próprias. Mas foi-se a ideia de que ele está lá para proteger a natureza. Hoje os entendo como em uma luta digna pela sua forma de viver.


Gustavo Geiser é engenheiro agrônomo com mestrado em Agroecossistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalha na Polícia Federal como Perito Criminal Federal na área de meio ambiente. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pinheirinho: os limites da democracia burguesa

fonte - vermelho
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=10&id_noticia=174219
29 DE JANEIRO DE 2012 - 13H00 
Pinheirinho: os limites da democracia burguesa

A vitória eleitoral das forças progressistas nas últimas três eleições presidenciais não significou o fim da luta de classes, dada por muitos como conceito ultrapassado.O uso do Estado com seu aparato repressivo, jurídico e político em defesa da propriedade privada e contra a organização coletiva da comunidade Pinheirinho é um fortíssimo indício dos limites da democracia burguesa.

Por Odair Rodrigues*

O “Estado” aqui referido não é apenas a unidade federativa de São Paulo, governada pelos tucanos, mas a instituição como um todo em seu aspecto econômico e político-ideológico nas esferas municipal, estadual e federal, mesmo exitindo grandes nuanças entre elas.

No episódio do Pinheirinho, a organização repressiva do Estado tem nas tropas da PM a sua ponta do iceberg. Porém, mais profundas são suas bases durante os oito anos de existência daquela comunidade deliberadamente abandonada pelo poder público que lhe negou o acesso à saúde, educação, segurança e à justiça.

Após a violentíssima atuação da PM paulista, digna do exército invasor na Faixa de Gaza, a imprensa burguesa imediatamente apresentou os fundamentos jurídicos da ação, repaldando o Estado na defesa da propriedade privada do conhecido Naji Nahas, réu de vários processos envolvendo evasão de divisas, sonegação de impostos, fraude financeira que somam milhões em prejuízo para o erário.

O governador tucano de São Paulo, o prefeito tucano de São José dos Campos, a PM, a guarda municipal e os tribunais asseguraram a legalidade da diáspora1 da população pobre da comunidade do Pinheirinho.

Essa relação entre o Estado e indivíduos como Naji Nahas, Daniel Dantas, Verônica Serra, Verônica Dantas Rodenburg, Ricardo Sérgio de Oliveira, e outros elencados no livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr, são estabelecidas pela lógica do capitalismo, segundo Marx e Engels:

(...)Os burgueses não permitem ao Estado que este se imiscua em seus interesses privados e apenas lhes conferem o poder necessário para sua própria segurança e para a salvaguarda da concorrência, uma vez que, de modo geral, os burgueses apenas atuam como cidadãos do Estado na medida em que sua sua situação privada assim o ordena (...)2

Partindo dessa premissa, não é a falta de “republicanismo” a principal causa desse quase incesto entre o público e privado nos marcos da democracia burguesa onde o direito individual à grande propriedade privada se sobrepõe, juridicamente, ao direito individual à pequena propriedade ou à propriedade coletiva.
Para que não haja dúvidas, basta observar a quantas anda a reforma agrária, a grilagem e invasão de imóveis públicos3 por grandes empresas de variadas áreas de atuação, os assassinatos de lideranças do campo e dos povos indígenas.

Desfeitos os motivos para decepção ou surpresa com o judiciário devemos prestar atenção no dinamismo da realidade política, mesmo com o grande esforço de uma quase onipresente mídia burguesa a afirmar que nada muda.
O aumento da violência tucana contra os movimentos organizados e os excluídos da cidadania consumidora é uma reação às conquistas sociais e à aproximação do debate eleitoral em meio ao agravamento das contradiçoes nos países centrais do neoliberalismo.

Ou seja, há risco aos pilares da concentração do capital sob o Estado democrático burguês. A história demonstra que onde os movimentos sociais sucumbiram, pela força ou pela fraude, a burguesia optou tirar o caráter “democrático” do Estado burguês.

“Os desertos se encontram de várias formas Seja no espírito no solo ou na mente através de ideias tortas”4

O que houve na comunidade do Pinheirinho não pode ser deixado no esquecimento, deve ser apurado e o imóvel não deve beneficiar, ao menos desta vez, a quem prejudica a maioria. Inda que haja outras feridas abertas em Eldorado de Carajás, Unaí, Carandiru, USP, Araguaia, Lapa, etc.

A atuação direta em organizações sindicais, estudantis, artísticas, partidárias e movimentos populares, aliada ao rompimento do silêncio imposto pelas empresas que vendem notícias abrem grandes possibilidades para alteração do caráter do Estado.

A direita, representada principalmente pelo PSDB, sabe disso e acuados não hesitam em usar todos os seus recursos.

O que pode mudar essa situação é a correlação de forças pendendo para os movimentos sociais, o que exige resistir às “ideias tortas” do tecnocratismo alardeado como alternativa à política, ou à desilusão contemplativa de quem esperava alcançar o socialismo por osmose eleitoral.

1dispersão de um povo em consequência de preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica - Dicionário Eletrônico Houiass

2MARX, Karl e ENGELS, Friedrich – A ideologia alemã – BACKES, Marcelo (org. e trad.) Ed Civilização Brasileira, RJ, 2007, p 401

3http://www.viomundo.com.br/denuncias/altamiro-borges-grileiro-da-cutrale-e-laranjas-da-midia.html
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=6&id_noticia=126745

4Pedra e Bala (ou Os Sertões) - Cordel do fogo Encantado

*Odair Rodriguese é militante do PCdoB, linguista, professor e fotógrafo.

domingo, 29 de janeiro de 2012

boventura - mem´ria como direito e tarefa civilizatória

fonte - carta maior
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19492&boletim_id=1116&componente_id=17718


Direitos Humanos| 29/01/2012 | Copyleft 


A memória como direito e tarefa civilizatória


No debate "Direitos Humanos, Justiça, Lutas e Memórias", promovido pelo Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso), em Porto Alegre, Boaventura Sousa Santos defendeu que "o grande desafio do direito à memória é que é o direito ao futuro, mas também ao passado e ao presente". E Leonardo Boff definiu a memória como uma prática subversiva que aponta os que fizeram as atrocidades e restitui a dignidade das vítimas.

Porto Alegre - "Se não tiver vaias e aplausos no Fórum Social Mundial, não será Fórum Social Mundial". Com a frase, a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acabou acenando a bandeira branca à multidão que lotou o auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no início da noite de sexta-feira (27), no evento "Direitos Humanos, Justiça, Lutas e Memórias", promovido pelo Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso). Maria do Rosário foi a terceira a tomar a palavra, depois que o auditório lotado consagrou, com palmas, o cientista político Emir Sader e o teólogo Leonardo Boff. Depois dela, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos veio em seu socorro, lembrando que o governo brasileiro era cheio de contradições internas e que o público que a vaiava deveria fortalecê-la para que cumprisse os compromissos assumidos em seu discurso, de luta pelos direitos humanos. "Eu confio 100% no que ela disse", afirmou Boaventura.

O conflito com a plateia, que até então a aplaudia, começou quando a ministra citou os povos indígenas dentro das políticas de direitos humanos do governo. "Belo Monte, Belo Monte", gritaram alguns presentes. Antes dessa menção, quando começava a descorrer sobre as populações vulneráveis que precisavam da atenção do Estado para garantia de direitos, algumas pessoas lembraram: "Haiti". Na segunda provocação, a ministra reagiu.

"Não me provoca Haiti ou Belo Monte. Irei daqui a dois dias ao Haiti para reiterar que não faremos com os haitianos o que outros países fazem com 
brasileiros imigrantes. O que ofende a sensibilidade humana é quando os imigrantes são tratados como escória, e não como parte da humanidade", disse a ministra. Afirmou, ainda, que estava sob responsabilidade de sua pasta a transição da missão de caráter militar que o Brasil hoje mantém naquele país em missão humanitária. Nesse momento, ganhou mais aplausos que vaias. 

O placar virou no momento seguinte, quando ela falou de Belo Monte. "Belo Monte tem que ser pensado a a partir do entendimento global de uma agenda de desenvolvimento para o país", disse, incluindo nesse pacote as reformas urbana e agrária. E, enfim, lembrou os episódios da reintegração de posse do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos. "Pinheirinho é a marca da intolerância", afirmou, assinalando, enfim, um compromisso com a plateia: 

"Diante de vocês, eu digo que unós faremos tudo para que cada projeto da agenda de desenvolvimento seja constituído com autonomia tecnológica, soberania e respeito aos povos originários", concluiu, para ouvintes ainda divididos.

Pinheirinho também esteve presente nas intervenções de outros convidados, como uma herança trágica e cultural de um passado autoritário, do qual a memória foi subtraída. "Pinheirinho é o passado, o presente e n ão queremos que seja o futuro", afirmou Sader. "Nós todos somos Pinheirinho", reiterou o presidente da União Nacional dos Estudantes, Daniel Iliescu.

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos afirmou que "o grande desafio do direito à memória é que é o direito ao futuro, mas também ao passado e ao presente". Diferenciou o direito à memória do direito à história. "O direito à história é o direito às histórias silenciadas pelo saber e pelo poder oficial. São aquelas histórias que aprendemos nas escolas e que vigoram como sendo a verdade dos tempos. A isso chamo de sociologia dos ausentes", disse. É o silêncio em relação aos oprimidos, discriminados e ao sofrimento humano.
"O direito à memória é outra coisa. É o direito a vivências e experiências pessoais que constituíram a subjetividade [de indivíduos], e que eles têm que lembrar e serem respeitados por isso", explicou. Segundo Boaventura, a verdade histórica existe para essas pessoas, mas a subjetividade dessa memória permite apenas o seu conhecimento, jamais sua transmissão. "A verdade para eles está inscrita nos seus corpos, no seu sofrimento. Essa memória é intransmissiva porque as dimensões do sofrimento nunca se pode transmitir, mas pode ser reconhecida." O silenciamento, neste caso, também "torna impronunciável a revolta". 

Propondo-se a ampliar o tema do direito à memória para o plano mundial, Boaventura inscreveu a escravatura como o episódio até hoje submerso pelo esquecimento. "Esta é uma história muito complexa, porque não é apenas dos financiadores europeus, mas a história dos africanos que escravizaram suas populações para vendê-las aos europeus". O peso dessa ausência de memória, segundo ele, até hoje resulta em revoluções, na África e na Ásia, e o colonialismo, todavia, é uma história que só começa a ser contada.

O colonialismo degradou colonizados e colonizadores, afirmou Santos. "Vejam a desgraça na Europa, que ficou cinco séculos a dizer às pessoas as virtudes da democracia e do desenvolvimento, e agora, numa crise econômica e financeira, não tem uma solução para os seus problemas e não sustenta a democracia". A Europa, que impôs o colonialismo ao mundo, agora está colonizada, mas por outros reis, disse Boaventura. Segundo ele, os primeiros ministros da Grécia e da Itália e presidente do Banco Central Europeu são, todos eles, ex-funcionários da Goldman Sachs. 

Leonardo Boff afirmou que "a memória é subversiva porque aponta os que fizeram as atrocidades e restitui a dignidade das vítimas". E é uma "tarefa civilizatória". "Famílias tem direito não apenas à memória resgatada, mas dos restos que sobraram de sua dignidade, ossos e corpos. Para que nunca mais se esqueça e nunca mais aconteça", concluiu o teólogo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Aumentam protestos contra o Fórum Econômico Mundial

fonte - adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?idioma=PT&cod=63842


26.01.12 - Mundo
Aumentam protestos contra o Fórum Econômico Mundial
 
Sergio Ferrari
Colaborador de Adital na Suiça. Colaboração E-CHANGER
Adital


Tradução: ADITAL
Os indignados instalam seu iglu em Davos* Campanha "Direitos sem Fronteiras” passeia com cães invisíveis* A denúncia ao poder econômico como arma de resistência
Sergio Ferrari, desde Davos, Suíça
Os indignados fizeram uma surpresa e se instalaram em Davos, centro turístico alpino suíço que, entre os dias 25 e 29 de janeiro, acolhe o Fórum Econômico Mundial. Sem convite algum, nem carta credencial, nem reserva em hotel 5 estrelas, deram asas à imaginação para não perder a ocasião de comunicar sua própria crítica ao sistema planetário dominante.
A escassos metros da estação de trens de Davos Dorf e a menos de um quilômetro da zona cercada de máxima segurança que rodeia o Centro de Congresso, onde se reúne o Fórum, construíram um iglu de resistência, desde o qual, durante uma semana, lançarão sua mensagem de protesto.
"O objetivo é fazer a cada dia uma ação simbólica”, explica uma das dirigentes juvenis do movimento. Por exemplo, na quarta-feira, 25, dia da abertura do principal evento da economia mundial, "lançamos vários balões grandes com consignas antineoliberais”.
A vida diária no iglu não é simples. Muito menos as notes, com temperaturas de vários graus abaixo de zero, no inverno alpino, nessa cidade montanhosa situada a mais de mil metros de altitude.
Para enfrentar o frio e para contar com um centro de reunião informal, os "occupy” levantaram perto do iglu duas carpas circulares um pouco mais protegidas e instalaram uma velha casa móvel nas proximidades.
O grupo de ocupantes renova-se constantemente. E não faltam jovens candidatos que em ordenados turnos chegam das diferentes cidades da Suíça para assegurar a continuidade do protesto. Estarão lá até o sábado, 28. Uma semana simbólica para recordar à opinião pública mundial, segundo enfatizam, que o "movimento de indignados continua existindo em milhares de lugares do mundo inteiro”. Uma espécie de memória ativa de uma nova consciência cidadã planetária em construção, assinalam.
Cães invisíveis com nomes de multinacionais suíças
Convocados sob a consigna "levemos atadas as multinacionais em uma coleira”, uma meia centena de membros de organismos não-governamentais e de associações de solidariedade com o Sul comoveram a cidade do Fórum Econômico Mundial, na quarta-feira, dia da abertura.
Os militantes da Campanha "Direitos sem Fronteiras” passearam durante duas horas pela pequena cidade com cães invisíveis atados pela coleira, aos que nomearam "Nestlé”, "Axpo”, "Glencore” ou "Syngenta”.
Ao mesmo tempo, repartiam informação explicativa e intercambiavam com os transeuntes. Muitos deles delegados ao Fórum Econômico Mundial que, entre curiosos e surpresos, perguntavam pro que aquela ação.
Tudo isso em pequenos grupos, ante a proibição de manifestações públicas na cidade de Davos, ocupada durante o Fórum por forças policiais, militares e de segurança.
A Campanha "Direito sem Fronteiras”, que reúne a mais de cinquenta organizações de cooperação ao desenvolvimento, solidariedade, sindicais e de direitos humanos do país, acaba de ser lançada em novembro de 2011.
Promove uma petição que será apresentada em junho de 2012 às autoridades nacionais, exigindo que as multinacionais suíças que atuam nos países do Sul devam respeitar os direitos humanos e ecológicos segundo as exigências e padrões suíços. E propõe regras jurídicas obrigatórias a ser cumpridas.
"É inimaginável que no Fórum Econômico Mundial de Davos, onde se projeta o mundo de amanhã”, os direitos fundamentais não ocupem um lugar essencial, enfatizava em representação dos manifestantes Denièle Gosteli, da Anistia Internacional – Suíça, sublinhando que essas multinacionais cometem graves violações aos direitos humanos e ambientais e as vítimas de suas práticas, em geral, "não têm direito a nenhum recurso jurídico”.
Um dos exemplos mais reiterados pela Campanha é a agroquímica suíça Syngenta, que "tem grandes lucros no Sul vendendo pesticidas proibidos na Europa, por atentar à saúde da população camponesa”, segundo explica um dos documentos do grupo.
Nesse clima de criativo protesto cidadão, nesse fim de semana, "El ojo público sobre Davos”, observatório criado pelas ONGs suíças, divulgará em Davos o prêmio à "pior empresa transnacional do mundo”. Entre as candidatas com maior possibilidade de obter a triste menção encontra-se justamente a agroquímica Syngenta.
[*Em colaboração com E-CHANGER, ONG suíça de cooperação solidária, membro da Campanha "Direito sem Fronteiras” - http://www.droitsansfrontieres.ch/]

Vale vence o Public Eye Awards, prêmio de pior empresa do mundo

fonte - cimi
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=6068


Vale vence o Public Eye Awards, prêmio de pior empresa do mundo

Inserido por: Administrador em 27/01/2012.
Fonte da notícia: Movimento Xingu Vivo Para Sempre
Após 21 dias de acirrada disputa, a mineradora brasileira Vale foi eleita, nesta quinta, 26, a pior corporação do mundo no Public Eye Awards, conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial. Criado em 2000, o Public Eye é concedido anualmente à empresa vencedora, escolhida por voto popular em função de problemas ambientais, sociais e trabalhistas, durante o Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos.

Este ano, a Vale concorreu com as empresas BarclaysFreeportSamsungSyngenta e  Tepco. Nos últimos dias da votação, a Vale e a japonesa Tepco, responsável pelo desastre nuclear de Fukushima, se revisaram no primeiro lugar da disputa, vencida com 25.041 votos pela mineradora brasileira.

De acordo com as entidades que indicaram a Vale para o Public Eye Award 2012 – a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (International Network of People Affected by Vale), representada pela organização brasileira Rede Justiça nos Trilhos, e as ONGs Amazon Watch e International Rivers, parceiras do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que luta contra a usina de Belo Monte -, o fato de a Vale ser uma multinacional presente em 38 países e com impactos espalhados pelo mundo, ampliou o número de votantes. Já para os organizadores do prêmio, Greenpeace Suíça e Declaração de Berna, a entrada da empresa, em meados de 2010, no Consórcio Norte Energia SA, empreendimento responsável pela construção de Belo Monte, foi um fator determinante para a sua inclusão na lista das seis finalistas do Public Eye deste ano.

A vitória da Vale foi comemorada no Brasil por dezenas de organizações que atuam em regiões afetadas pela Vale. “Para as milhares de pessoas, no Brasil e no mundo, que sofrem com os desmandos desta multinacional, que foram desalojadas, perderam casas e terras, que tiveram amigos e parentes mortos nos trilhos da ferrovia Carajás, que sofreram perseguição política, que foram ameaçadas por capangas e pistoleiros, que ficaram doentes, tiveram filhos e filhas explorados/as, foram demitidas, sofrem com péssimas condições de trabalho e remuneração, e tantos outros impactos, conceder a Vale o título de pior corporação do mundo é muito mais que vencer um premio. É a chance de expor aos olhos do planeta seus sofrimentos, e trazer centenas de novos atores e forças para a luta pelos seus direitos e contra os desmandos cometidos pela empresa”, afirmaram as entidades que encabeçaram a campanha contra a mineradora. Em um hotsite(http://xinguvivo.org.br/votevale/) criado para divulgar a candidatura da Vale, forma listados alguns dos principais problemas de empreendimentos da empresa no Brasil e no exterior.

Coletiva
No Brasil, as entidade Rede Justiça nos Trilhos, Núcleo Amigos da Terra Brasil, International Rivers e MST farão uma coletiva de imprensa sobre o premio nesta sexta, 27, ás 12:00 h, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre.

Já em Davos, Suíça, também ao meio dia (horário local), os organizadores do Public Eye, Declaração de Berna e Greenpeace Suíça, farão a entrega do premio durante uma coletiva no Fórum Econômico Mundial, que contará com a presença do economista americano e vencedor do Premio Nobel, Joseph Stiglitz.

Serviço

Coletiva no Brasil
Quando: sexta, 27, às 12:00h
Onde: Casa de Cultura Mário Quintana, Rua dos Andradas, 736 – Centro, Porto Alegre, RS – Sala de cinema Eduardo Ritz
Participantes:
Padre Dario, coordenador da Rede Justiça nos Trilhos
Lucia Ortiz, coordenadora do Núcleo Amigos da Terra Brasil
Brent Millikan, coordenador da International Rivers Brasil
João Pedro Stedile, membro da direção nacional do MST

Para mais informações:
Danilo Chammas, Justiça nos Trilhos – (99) 8844-2331
Padre Dario, Justiça nos Trilhos – (99) 8816-1788
Andressa Caldas, Justiça Global – (21) 8187-0794

Ass. comunicação:
Verena Glass, Movimento Xingu Vivo – (11) 9853-9950

Na Suíça:
Teamleader Communication and Media Communications Manager Biodiversity & Toxics
Direct +41 44 447 41 56, Mobile +41 78 682 00 91
yves.zenger@greenpeace.org

Campanhas

A Vale é Brasil na disputa para pior empresa do mundo e precisa do seu voto
Votação se encerra nesta quinta-feira e pode ser feita pelo site do Public Eye Award 2012
Vale concorre a prêmio internacional de pior empresa do mundo
A empresa detém 9% das ações do Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da usina de Belo Monte